24 de agosto de 2010

Dicas a um jovem escritor - Você não gosta de mostrar seus textos?


screver é como falar. Você escreve listas de compras, e-mails, comentários em blogs, receitas etc. Por que seria diferente escrever histórias?
Desde que aprendemos a falar, a maioria de nós não pára: são as brincadeiras na escola, as aventuras com os amigos, os comentários dos filmes que vimos. Os temas evoluem com a idade, mas estamos sempre contando histórias. Por que, então, para muitos é tão difícil escrever?
Minha opinião é que, em algum momento de nossa vida escolar, entregamos uma redação que achamos maravilhosa e o professor a devolveu cheia de riscos vermelhos, destacando nossa incompetência ao invés de ressaltar nossas qualidades. Para mim, só algum episódio deste tipo, esquecido nas gavetas empoeiradas da memória, pode explicar esta dificuldade.
Com certeza vem daí também o medo que alguns (quase todo mundo) têm de mostrar o que escreveram. É muito comum eu ser convidado a ler um blog ou texto que "não foi  mostrado a ninguém porque não sei se tem valor".
Bem, já está na hora de deixarmos de lado estes medos arraigados desde nossa infância e começarmos a fazer algo a respeito para mudar.
 Qual é a sua desculpa para ser um escritor, e não escrever?
Erros de português são resolvidos com um corretor ortográfico e um bom revisor, e com a prática estes erros vão ficando cada vez menos numerosos - mais um motivo para escrever, cada vez mais! 
"Somos todos escritores. Só que uns escrevem, outros não."José Saramago, Nobel e escritor dos que Escrevem.
Outra desculpa muito comum é
não confiar na sua ideia, não saber se "vale a pena" escrever um livro sobre aquele assunto. O critério para isso é simples: Sua idéia é original? Se não é, ela tem alguma inovação, um novo ângulo sobre algo já visto? A pouco tempo, Seth Grahame-Smith lançou o livro "Orgulho, Preconceito e Zumbis", creditando co-autoria a Jane Austen, autora do romance original (sem zumbis). Nada no livro é original, mas a combinação feita, sob uma nova ótica, tem o potencial de gerar uma obra com a profundidade e a beleza de algumas passagens originais no vilarejo de Meryton com a gozação escrachada da inserção de zumbis na história. Não estou dizendo que o livro é bom ou ruim (não, não o li), mas não podemos negar uma coisa: é original.
Outra desculpa que já ouvi é não ter segurança quanto à estrutura da trama, ou o desenvolvimento dos personagens ("será que o que escrevi é clichê?"). Ora, se você está inseguro quanto a à matéria de matemática, o que faz antes da prova? Estuda. Faça isso com seu livro: Leia livros que falam sobre estrutura do texto (alguns exemplos: “Laboratório do escritor”, Ricardo Piglia;
“O Herói de Mil Faces”, Joseph Campbell; ”A Jornada do Escritor”, Christopher Vogler - trad. Ana Maria Machado; “Escreva seu livro – Guia prático para edição e publicação”, Laura Bacellar; “Para ler como um Escritor”, Francine Prose; "Você já pensou em escrever um livro?",Sonia Belloto), leia livros que você gosta e observe como o autor organizou sua história.
Leia sempre, aprenda sempre.
E de uma vez por todas: nunca tenha vergonha do que escreve, pois não há "forma correta" de escrever. Existe, sim, uma forma mais usual, mais "comercial", que por causa disso pode atrair mais leitores e a atenção de editoras interessadas.
Mas isso você aprende assim mesmo - estudando e praticando.
Gostou?  este post!

7 comentários:

Sueli disse...

Eu gosto de escrever e gosto que leiam o que escrevo. Chego ao cúmulo de gostar de críticas, pelo fato de estar sendo lida. Gostei do seu texto e aprendi muito com ele. Obrigada e parabéns...

Álvaro Botelho disse...

como sempre mais ótimo post de grande competência ! Ah acho que ficou faltando no final do texto um "não" nesta frase daqui: "E de uma vez por todas: nunca tenha vergonha do que escreve, pois há "forma correta" de escrever. Existe, sim, uma forma mais usual, mais "comercial", que por causa disso pode atrair mais leitores e a atenção de editoras interessadas."

Alexandre Lobão disse...

Grato pelos comentários, e fiquem à vontade para enviar sugestões sobre novos assuntos a discutir.

Ah, e obrigado pelo toque, Álvaro, já corrigi o post!

Marcia Silva disse...

Penso que a 'coragem' de expor um texto está relacionada ao ser desinibido ou tímido. Graças, sento na cadeira da primeira turma, a dos desinibidos. Minha filha é semelhante, tem um blog desde os 10 anos (hoje está com 12). Já meu filho não é chegado... Temos todo o cuidado de regar o hábito. Contudo, comemoremos: cada pessoa tem seu talento e é especial à sua - melhor - maneira.
Ah! Sou íntima das palavras, do escrever, digavar... Mas pra um livro, demorarei uma vida, talvez. Enquanto isso, vamos exercitando e nos ligando às suas dicas.

Anônimo disse...

Ótimo texto! Abraços!

Luciana Marques disse...

Adorei o post... - como sempre - Antes de escrever qualquer coisa (até mesmo um e-mail pessoal), sempre me questiono: é interessante para alguém? Tem uma finalidade definida? Para mim, não há timidez que supere as afirmativas para essas duas perguntinhas...
Parabéns!!!

Alexandre Lobão disse...

Com certeza, Luciana. Ter algumas "regras de ouro" sempre é bom. São as famosas "peneiras": é útil? É único? É necessário? Não fara mal, ou fará bem a alguém?
Cada um tem suas peneiras, mas acho que estas quatro perguntinhas são essenciais a todos!
[]s