22 de outubro de 2015

A responsabilidade social do escritor


Você é a Voz, tente entender isso. Faça ela soar alto e claro, porque nós não estamos aqui para sentar em silêncio ou viver com medo.

A frase faz parte da música “You’re the voice”, escrita por quatro diferentes compositores e cantada por John Farnham, que ganhou o prêmio de ‘single do ano’ da indústria fonográfica australiana de 1987.
Cada e-mail, cada parecer, cada livro que escrevemos carrega nossa voz... Como queremos que ela seja escutada?
 Certa vez fui abordado por uma escritora que falava que adorava escrever histórias mais adultas, mas que tinha vergonha de mostrar as histórias para seus filhos e sua mãe.
Como lidar com esta responsabilidade?
“Escreva o que o seu coração mandar... Mas não esqueça de equilibrar sua paixão com um pouco de razão!”
Não é só questão de lembrar que tudo o que escrevemos poderá ser lido por familiares. É importante pensar no impacto que a obra terá em todos os leitores, de todas as idades. Afinal, se o livro não é apropriado para ser lido por nossos filhos, será apropriado para ser lido pelos filhos dos outros?

É um ponto controverso. Mário Quintana já dizia que “Livros não mudam o mundo. Livros mudam pessoas, e as pessoas é que mudam o mundo”. E se tudo o que escrevemos pode ser um catalisador de mudanças, então devemos refrear nossa criatividade e só escrever “histórias socialmente responsáveis”?

Esta provavelmente foi a coluna com mais interrogações que já escrevi, e não é à toa: não há uma resposta correta, ou fácil, para esta questão.

A meu ver, todo escritor deve ter liberdade de escrever o que quiser. Só que mesmo obras despretensiosas, com foco apenas em diversão (talvez estas ainda mais que as outras), têm um grande potencial de sugerir comportamentos, de educar ou deseducar leitores. O escritor pode e deve escrever o que quiser, mas não se iludir sobre os efeitos que seu livro tem sobre os leitores.

Afinal, cada pessoa é uma Voz, mas uma voz que é lida por muitos sempre soa mais alto que as outras.

E você, o quanto acha que o escritor precisa se preocupar com os impactos de seu texto? Comente e compartilhe com os colegas escritores!

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7 de outubro de 2015

7 Coisas que Aprendi, com Zé Wellington

S
ete Coisas que aprendi é uma iniciativa conjunta* entre os blogs Escriba Encapuzado e Vida de Escritor, onde T.K. Pereira e Alexandre Lobão convidam escritores e outros profissionais do mercado livreiro e literário para compartilharem suas experiências com os colegas de profissão, destacando sete coisas que aprenderam até hoje. 
Sempre é bom lembrar que em maio deste ano lançamos um e-book com 61 contribuições de escritores e profissionais do mercado.  E estamos agora juntando contribuições para a próxima edição!  Então, se você é escritor iniciante ou veterano, se escreve poesias, contos, romances ou biografias, se é editor, capista, ilustrador, revisor, agente literário ou mesmo um leitor ávido com algo para compartilhar, não perca tempo e envie sua contribuição para esta série de artigos!
Aqui no Vida de Escritor esta série está um pouco devagar, por conta de motivos de força maior, totalmente além do meu controle. Felizmente, o amigo T.K. não deixa a bola cair, e nos últimos dois meses publicou cinco novas contribuições, confiram lá:
  • Cirilo S. Lemos, autor dos romances O Alienado, E de Extermínio (Ed. Draco) e de um punhado de outras histórias.
  • Luís Fernando Amâncio, autor de Contos de Autoajuda para Pessoas Excessivamente Otimistas, participante do projeto Digestivo Blogs,do Digestivo Cultural.
  • Ana Faria, autora de Um Ano Bom, poetisa, contista e educadora de Ensino Fundamental e Superior.
  • Rodrigo Mesquita é contista e está escrevendo o seu primeiro romance, uma ficção histórica brasileira.
  • Li Mendes, autora de O Amor está no Quarto ao Lado, Alma Gêmea por Acaso, Coração de Pelúcia, A Verdadeira Bela, O Mestre do Amor, além de diversos outros em formato digital, sendo colunista do blog Vida de Autor do Widbook.
E para não deixar a bola cair aqui no Vida de Escritor, trazemos a contribuição de Zé Wellington, escritor e roteirista de quadrinhos com um raro talento de transformar em ouro qualquer  história que escreve.
  1. Ignore todos os manuais e regras. Mas só depois de conhecê-los de cor.
  2. Os melhores feedbacks são os negativos. Mesmo que não concorde, pense a respeito. Quando recebê-los, não justifique: apenas agradeça.
  3. Ser escritor é 25% inspiração, 25% transpiração e 50% networking. Se quiser entender o mercado, precisa sair de casa e participar dele.
  4. A internet é a sua melhor amiga: use em abundância para se divulgar. A internet é a sua maior inimiga: desligue-a para trabalhar.
  5. Publique pelo menos uma vez de forma independente. Publique pelo menos uma vez através de editoras.
  6. Você é o que você come: escolha bem o que você vai consumir, tudo influencia no seu trabalho.
  7.  Se você nunca se deu bem com a língua portuguesa e a redação na escola, vai precisar resolver isso antes de começar a escrever. A história de que um revisor resolve tudo é balela. Nenhuma editora vai ler o seu original se o texto não estiver razoavelmente bem escrito. Nenhuma editora vai ler o seu original se seus e-mails e postagens no Facebook não estiverem razoavelmente bem escritos.
 Sobre o autor: Zé Wellington é escritor e roteirista, tendo participado de diversas coletâneas de contos e e de revistas especializadas em literatura fantástica e quadrinhos, tendo recentemente publicado as graphic novels Quem Matou João Ninguém e Steampunk Ladies, que tiveram excelente receptividade de crítica e de público. É colaborador e podcaster do site Iradex.net.

* Projeto inspirado pela coluna “7 Things I’ve Learned So Far”, da revista Writer’s Digest.

Veja a opinião de outros autores no  Vida de Escritor e no Escriba Encapuzado.
Até a semana que vem - e enquanto isso pensem em SUAS 7 coisas e enviem suas contribuições

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23 de setembro de 2015

Há regras para escrever (boas) obras de ficção?


C
omo passar ideias para o papel sem perder sua vitalidade, originalidade e graça?
Uma resposta simples e direta é dada por William Somerset Maugham, novelista, contista e escritor de peças inglês que foi o mais bem pago escritor na década de 1930: “Existem três regras para saber escrever ficção. Infelizmente ninguém sabe quais são elas.”
William Somerset Maugham
Brincadeiras à parte, é importante nos conscientizarmos de duas coisas: Primeiro, realmente não existem regras para escrever (boa) ficção, até porque várias grandes obras se destacaram justamente por saírem dos padrões usuais dos escritores de sua época.

Em segundo lugar, é importante saber que existem sim regras para melhorar seu texto, desde simples regras gramaticais e ortográficas – que encontramos em qualquer gramática – até regras sobre como estruturar melhor seu texto para torná-lo mais claro, mais fluido, mais divertido para o leitor.

Estas regras existem tanto para textos de ficção quanto para textos técnicos, e o conselho vale para ambos: Antes de começar a escrever, organize suas ideias.

Liste todos os pontos principais do que você vai escrever. Se, por exemplo, trata-se da produção de um parecer quanto a determinada questão, liste os prós, os contras, as contestações para cada ponto, elabore a linha geral que será defendida e qual a conclusão que será apresentada, tudo isto em uma simples lista de tópicos.

Se por outro lado trata-se de uma história, comece registrando o status quo inicial, os “pontos de virada” – os momentos em que a história muda efetivamente de rumo – e a conclusão da busca iniciada pelo personagem no primeiro ponto de virada.

Não é preciso nenhuma avaliação: você mesmo irá perceber que o resultado produzido será bem mais coeso, mais focado e interessante devido ao direcionamento dado por este planejamento!

E você, o que acha que um bom texto precisa ter? Há regras? Como quebrá-las sem estragar seu texto? Comente e compartilhe com os colegas escritores!

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14 de setembro de 2015

Para ver a vida como um escritor


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ova Iorque, 11 de setembro de 2001.
Às 8:46 da manhã, um Boeing 767 da American Airlines atinge um dos prédios do World Trade Center, o coração e símbolo do poder econômico estadunidense, em Nova Iorque. 17 minutos depois outro avião, de mesmo porte, atinge a segunda das Torres Gêmeas.
Os prédios, em chamas, caíram em algumas horas; não antes de protagonizarem cenas fortíssimas de superação, coragem e desespero. No auge da loucura, mesmo pela TV era possível ver a chuva de corpos daqueles que, entre a morte pelas chamas nos andares mais altos ou pela queda de um dos prédios mais altos do mundo, optavam pelo salto fatal.
Quando finalmente as estruturas cederam ao calor e os prédios vieram abaixo, um grito coletivo pôde ser ouvido nas gravações que correram o mundo.
Ao grito mal contido seguiram-se nuvens pesadas e cinzentas, avançando rapidamente em todas as direções e engolindo pessoas, carros, prédios inteiros.
Depois, do meio daquela massa que lentamente se dissipava, começaram a surgir vultos cambaleantes que buscavam algo para respirar. Lentamente começaram a se divisar os carros, os prédios,  as ruas monocromáticas de um novo e para sempre transformado mundo.
Daquela cena dantesca, um dos pontos ainda mais surpreendentes, para mim, foi o inusitado silêncio.
“Observe, sinta, viva cada momento, e sua escrita será cada vez melhor”
Não um silêncio qualquer, mas um silêncio nascido daquele grito estrangulado na garganta de milhões de pessoas que acompanhavam a cena em todo planeta, e que se condensou em uma cidade que, embora nunca dormisse, naquele momento se paralizava, sem motores, sem buzinas, sem sirenes, sem arrulhares, latidos, risos, choros, xingamentos... Uma cidade sem voz.
Por longos e doloridos minutos, tudo o que se ouvia era o som arrastado dos passos daqueles que ousavam abrir espaço pela poeira cinzenta...

O que isto tem a ver com ver a vida como um escritor?
Tudo!
Quantas pessoas será que realmente se incomodaram com este silêncio, ou ao menos repararam nele?
O escritor, antes de tudo, é um observador e um curioso. Ele quer saber todos os detalhes de tudo, como as coisas funcionam, como as pessoas reagem às situações, quais são as gírias e comidas locais de cada cidade que visita... Apesar de parecer uma simplificação, acho que é bem isso: olhar a vida como um escritor é dedicar uma atenção especial aos detalhes.
A verossimilhança, tão necessária para garantir a imersão do leitor, é baseada justamente nestes detalhes. São estas pequenas coisas que o leitor vai reconhecer e relacionar inconscientemente com seu dia a dia, e automaticamente aceitar a história como “verdadeira” e reforçar a empatia pelos personagens.
Esta atenção aos detalhes, mesmo para quem não é escritor, oferece algumas vantagens.
Primeiro, a vida fica mais leve. Se você, ao caminhar, repara nas folhas que caem, nas formigas que fizeram uma trilha, no barulho do vento e no cheiro de terra molhada após uma chuva, pode ter certeza que sua vida será muito mais colorida.
Segundo, a vida também fica mais saudável. Além dos benefícios a longo prazo (há estudos que comprovam que exercitar a mente “saindo do automático” nas atividades diárias diminui os riscos de desenvolver Alzheimer, por exemplo), viver uma vida mais “colorida” significa também ser mais feliz, mais tranquilo, o que oferece benefícios comprovados para todo o sistema cardíaco e circulatório.
Uma pessoa mais tranquila, saudável e feliz acaba também sendo mais agradável, e tendo uma vida social mais ativa.
Preciso continuar?
Escrevendo ou não, veja a vida como um escritor. Você só tem a ganhar!

E você, como vê a vida? Como isso impacta em sua escrita? Comente e compartilhe com os colegas escritores!

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