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21 de setembro de 2009

Como escrever diálogos

Acredito que uma das coisas mais difíceis para o autor iniciante é escrever bons diálogos. Na verdade, confesso que recentemente li alguns autores já reconhecidos que tem problemas com isso. Portanto, esqueçamos o "iniciante" na frase anterior. Há diversos "crimes" que podem ser cometidos contra um bom diálogo. Assim, de cabeça, vou tentar lembrar de alguns que realmente me incomodam quando estou lendo um livro:

  • Lecturing: Perdoem o estrangeirismo, mas é que a palavra mais próxima em português para isso seria "lecionar", e ela não representa bem o sentido original, quando falando de diálogos, que é algo mais perto de "apresentar palestra" ou, quem sabe, "panfletar". Fico bastante incomodado quando um personagem fica apresentando explicações que não se enquadram no texto! Se você sente necessidade de colocar um personagem explicando alguma coisa (seja a resolução de um mistério, um dado técnico de alguma coisa ou uma lição de moral), tome cuidado: há uma grande chance de seu texto estar com algum furo, pois de forma ideal o leitor entende um livro sem necessidade de palestras! Por vezes, uma ou outra explicação pode ser necessária, mas cuidado, evite colocar um personagem perguntando mil coisas para o outro, que vai explicando, explicando, por páginas a fio, apenas interrompido pelo indagador, que volta e meia faz alguma pergunta para permitir que a explicação continue. Além de quebrar o ritmo da narrativa, esta abordagem passa a impressão de que o personagem que pergunta é um tolo ou um chato...
  • Monólogos a dois: Nada é pior que um diálogo onde todos os personagens tem a mesma “voz”! Defina bem o background de seus personagens, tenha sempre em mente quem cada um deles é, seu passado, sua forma de agir. Há duas formas para estes monólogos: Quanto ao conteúdo, quando um personagem fala uma coisa, e o seguinte continua a idéia, e assim por diante, mostrando uma homogeneidade muito grande de idéia; e quanto à forma, onde todos os personagens “soam” iguais, mesmo com idéias diferentes. Uma criança usa palavras diferentes que um idoso, e pessoas do Nordeste vão usar termos diferentes de um sulista, atenção para estes detalhes!
  • Clichês, jargões e outros bichos: Cuidado ao escrever os diálogos! Evite colocar seus vícios de linguagem, ou pior, de escrita, na boca dos personagens. Advogados, médicos e analistas de informática são célebres por utilizarem uma “linguagem própria” no seu dia a dia; e isso não se restringe a estas profissões. Lembre-se: um personagem só deve utilizar jargões e clichês ou um vocabulário pouco usual em um diálogo se isto fizer sentido na história!
  • Ninguém é um só: Uma última dica: ninguém é um só! Uma pessoa gozadora tem seus momentos de tristeza e seriedade, e mesmo uma pessoa com depressão patológica se permite alguns momentos de felicidade e esperança. Não transforme seus personagens em estereótipos – exceto, talvez, se você desejar dar-lhes um efeito cômico!


Para fechar: Sábado passado estive com os autores da “Casa de Autores” em Unaí, MG, apresentando a palestra “Formando os escritores de amanhã”, sobre como formar leitores, formando escritores. Sábado que vem, estarei com a “Casa de Autores” falando com leitores em um evento no Shopping de Valparaíso, GO. Como já falei antes, “o gado só engorda sob o olhar do dono”.

Mais sobre isso em futuros posts!

16 de março de 2009

Gestação: Incrementando sua ideia

Temos até 2012 para remover o acento de "idéia", mas para acostumar, vamos deixar sem acento pelo menos no título ... :)
Antes de mais nada, "Gestação" é um nome cunhado por mim; até onde eu sei outros autores que escreveram sobre este assunto ("a arte de escrever"...) eventualmente mencionam esta etapa da produção literária, mas não a "batizaram" desta forma. O nome "gestação" vem justamente da forma que trabalhamos para fazer a idéia crescer, evoluir, até se tornar uma história completa. Atenção para este ponto, que é bastante importante: uma idéia não é uma história! A idéia, também chamada de "premissa" ou "tema", é o cerne da história, é aquilo que os leitores irão responder quando alguém perguntar: "sobre o que é a história?". Já a história é um conjunto complexo que envolve ambiente, personagens, tramas, e muitos detalhes mais - inclusive outras idéias - que se unem para desenvolver aquele tema. Para transformar a idéia em história precisamos, basicamente, saber mais sobre ela. Nesta etapa de gestação, as principais dicas seriam:
  • Pesquise sobre sua idéia. Leia diversos livros sobre o assunto, até ter sua opinião própria, e sempre, sempre tenha um lápis e um papel à mão nestas leituras. Por exemplo, para os 5 capítulos de "O Nome da Águia" que envolvem de alguma forma o ditador Adolf Schicklgruber Hitler, um dos livros que li foi "Albert Speer: sua luta pela Verdade", de 1008 páginas; que resultaram em 3 páginas de anotações: a música preferida de Hitler, condições climáticas da Alemanha na época do fim da Segunda Grande Guerra, diversas referências geográficas, etc.
  • Entreviste ou converse com especialistas. O fim do livro "O Nome da Águia" mudou três vezes antes que eu começasse a escrevê-lo (ainda na etapa de gestação...), pois minhas conversas com estudiosos da história Judaica e pessoas que passaram por experiências de quase-morte me levaram a modificar algumas das concepções que eu tinha para o livro.
  • Conte sua idéia! Sempre que possível, reuna seus amigos (de preferência, escritores ou leitores contumazes...) e conte a idéia em seu ponto atual, indicando o que ainda não está claro e o que você acha que pode ser melhorado. As idéias coletivas que surgem sempre são excelentes pontos de partida para incrementar sua idéia, ou eventualmente descobrir que ela não vale à pena! O curioso é que, cada vez que você conta sua idéia (mesmo que ninguém contribua com nada), sua mente se exercita para povoar com detalhes o esqueleto básico que está se formando, assim, a idéia vai evoluindo naturalmente.
  • Anote, rabisque, desenhe, lembre. Eu, particularmente, não esqueço de uma história quando estou trabalhando nela, e até o fim da etapa de gestação só tenho anotadas as referências dos livros e conversas. Mas conheço autores que anotam as idéias principais, os "pontos focais" da(s) trama(s) de diversas formas. Uma forma particularmente interessante de registro é na forma de grafos, onde um ponto se liga a outro por setas - com a vantagem que você consegue anotar de maneira visual diversas possíveis variações da história que está tomando forma, antes de decidir qual seguir.

Em algum momento, você irá perceber que a idéia começa a se tornar uma história completa. Obviamente ainda há muito a burilar, mas neste ponto você já poderá avaliar se a história que tem em mãos efetivamente vale à pena ser contada, ou se é melhor abandoná-la e começar tudo do zero.

E não se intimide em recomeçar quantas vezes for necessário: além disso ser normal, é muito melhor do que continuar investindo tempo em uma história na qual você não acredita 100%. Se você não está empolgado com sua quase-história ao fim da gestação, então como vai conseguir empolgar seus leitores?