29 de abril de 2010

Pausa para abrir espaço para o Samael Duncan... Cila, Parte I

Amigos! Farei uma pequena pausa nas dicas para escritores para mostrar um pouco do meu trabalho - Afinal, se dou dicas sobre como escrever, preciso escrever também para exercitar o que sugiro! :) E aqueles que já me enviaram textos para revisão/comentários, aproveitem para se vingar! ;) Vou publicar aqui o "conto" "Cila", premiado no concurso do SESC de contos de 2006. Digo "conto" pois na verdade é um capítulo de meu próximo livro, que apresenta a transcrição das memórias de Samael Duncan (falo mais sobre ele em outra oportunidade. Por hora, basta saber que ele foi um grande aventureiro - ou um grande mentiroso). Como o conto tem algumas páginas, vou publicá-lo em partes, para não "pesar" demais na leitura. Divirtam-se!
Sento na cama quase em um salto, abrindo os olhos antes mesmo de acordar. Inspiro o ar pela boca, desesperadamente, como quem retorna à superfície depois de um longo mergulho. Sentada ao lado da cama, a enfermeira se assusta e derruba sua revista no chão, porém anos de treinamento dão direção ao sobressalto, e em segundos ela está junto a mim, verificando se estou bem. Um sonho. Foi tudo apenas um sonho. Não me recordo exatamente dos detalhes, só lembro que estava novamente entre os destroços do Seagull II, navio mercante inglês atingido em pleno Mediterrâneo por um torpedo alemão. Eu afundava, puxado para o fundo pelo empuxo do anteriormente orgulhoso barco, e olhava para cima, enquanto a luz da superfície ficava mais e mais longe... Lembro de um último pensamento que dediquei a Caterina, quase desejando o esquecimento final que quiçá levar-me-ia ao seu encontro. Em meu sonho, no entanto, nunca chegavam as mãos que naquele fatídico dia haviam me segurado firme e me levado de volta à superfície, como que completando um batizado profano nas águas saturadas de óleo e sangue. Com alguma ajuda, após o café sou levado da cama à cadeira de rodas. Apenas por hábito, coloco a bengala sobre a manta que cobre minhas pernas, pois quase não recordo da última vez que consegui ficar de pé apenas com seu apoio. Prestimosa, a enfermeira me leva novamente ao escritório, onde tenho ficado ultimamente. A meu pedido, retorno à frente da mesa e à pilha de papéis que clama por minhas memórias. É curioso como, mesmo após tantos anos, os detalhes me vêm prontamente à memória. De fato, as memórias mais antigas parecem mais vivas que o dia a dia em que as tenho registrado. Não preciso pensar muito sobre o que irei escrever hoje. Hoje falarei sobre Cila, que conheci em minhas viagens a Veneza bem antes que a Segunda Grande Guerra tornasse a Europa um lugar por demais desagradável para visitar, pelo menos por alguns anos. Não que eu tenha me furtado a isso. Mas minhas passagens pelo front Russo e os campos de concentração de Auschwitz e Birkenau são por demais dolorosas para lembrar. Talvez um dia eu me anime a tal, mas não hoje. Hoje, falarei sobre Cila.
Mais na semana que vem!

19 de abril de 2010

Saiu meu primeiro livro em português no Kindle (ou "Quer publicar no Kindle? Pergunte-me como...")

migos!
Depois de um longo e tenebroso inverso, cheio de clichês como este, saiu para o Kindle / Brasil minha primeira publicação em português (tenho outros três livros publicados lá, mas são em inglês).
Dicas rápidas para quem quem publicar no Kindle:
1) Vá ao site: https://dtp.amazon.com/mn/signin e "se logue" com sua conta de cliente da Amazon (ou crie uma na hora, se não tiver)
2) Tenha em mãos seu livro em formato do editor de textos Microsoft Word. HTML também serve, mas é ruim para a formatação; PDF nem pensar. tenha também uma imagem da capa, em boa resolução
3) Tenha em mãos, também, uma declaração da editora (caso você não seja a própria editora) por onde saiu o livro, indicando que você tem os direitos para publicar o livro no Kindle "all over the world" (sim, a declaração precisa estar em inglês)
4) Após se logar, vá na área do "dashboard" (é fácil de achar), e simplesmente publique seu livro: preencha os dados do livro, incluindo uma resenha, envie a capa e o texto, confira se o texto ficou bom (tem um "simulador de Kindle"), confirme que tem os direitos sobre o livro, indique o valor que você deseja receber, indique em que países deseja vender seu livro, e pressione "publicar".
5) Espere alguns dias. O livro deve aparecer como "Live" no dashboard, e se nada der errado vai aparecer ao mesmo tempo para venda no site da Amazon, com o valor de 2 dólares a mais do que você pediu para venda.
6) Em caso de problemas (SEMPRE ocorrem, pelo que pude ver, exceto se você publicar para venda apenas nos Estados Unidos), entre em contato com suporte da Amazon. Demorei muito tempo até conseguir achar o e-mail deles, então anotem aí: dtp-support@amazon.com. Nem perca tempo nos fóruns de suporte, eles quase nunca respondem por lá, e por e-mail respondem rapidamente. Basicamente, é isso. Dúvidas são bem vindas nos comentários!

Segue a release do livro que publiquei no Kindle:
Título: A Caixa de Pandora e Outras histórias
Endereço: http://www.amazon.com/dp/B0036VO5EW
Release: "A Caixa de Pandora e outras histórias", publicado em maio de 2000, foi o primeiro dos livros de Alexandre Lobão, autor de "O Nome da Águia". Com toques de realismo mágico, tramas envolventes e finais surpreendentes, este livro mostra que desde sua estréia o autor já dominava a técnica de envolver os leitores e levá-los a um mundo onde os limites entre real e imaginário são tênues como um virar de páginas. Nesta edição especial para o Kindle, o livro conta com três novos contos, todos premiados em concursos literários no Brasil: "Betes!" e "Sete Dias", contos de ficção científica premiados nas edições de 2008 e 2009 do concurso FC do B, e "As incríveis memórias de Samael Duncan, parte II - Cila", premiado no concurso do SESC em 2006, e que é uma prévia do próximo romance do autor.
Algumas opiniões sobre a obra:
"Mágico! Assim se expressará quem ler A Caixa de Pandora. Parece filme, parece gibi... é tudo ao mesmo tempo. O contador de histórias, com talento, diversifica temas e utiliza o recurso do diário, com isso somos levados a acreditar que os fatos realmente estão acontecendo ou aconteceram. Mas é impossível descobrir onde começa a fantasia." Joilson Portocalvo, escritor
"Confesso que, ao encetar a leitura, não me sentira entusiasmado, talvez por o apresentador dizer que o livro lembrava muitos ingredientes, inclusive o gibi, que jamais foi de minha preferência. Mas com o beneplácito de ambos os responsáveis pela identificação do autor, que é estreante, pus-me à leitura e, admito, tive vontade ou necessidade de percorrer as páginas de 'A Caixa de Pandora e Outras Histórias' com sofreguidão. Seu conteúdo, seus nove contos, é instigante, tornando-me prisioneiro do enredo, de cabo a rabo." Manoel Hygino dos Santos, Jornal "Hoje em Dia"
Leia a resenha, comentários da imprensa e assista ao teaser trailer do livro no meu site, http://www.alexandrelobao.com/
Grato pela atenção, peço que ajudem a divulgar o livro e meu blog! :) Saúde, Paz e Sucesso para todos!

5 de abril de 2010

Entrevista na TV Senado - e resenha do livro Uhuru

Para quem não pôde assistir, minha entrevista para a TV Senado está disponível no sítio institucional do Senado, no link "downloads" de http://www.senado.gov.br/TV. Na entrevista, falo um pouco sobre criação literária e sobre o romance "O Nome da Águia". Segue a chamada para a entevista, transcrito do sítio do Senado.
O escritor Alexandre Lobão é um apaixonado pela leitura, ele ensina que “ler como um escritor” é também uma forma de aprender a escrever. Diz na entrevista ao Leituras, que “um bom romance nasce dentro do coração”, quando surge uma ideia que precisa inevitavelmente ser exposta, “jogada pra fora”. Neste programa, ele apresenta o romance “O nome da águia”, obra em que exercita o ato de escrever criando caminhos narrativos para prender a atenção do leitor.

Em paralelo, saiu no blog "O que elas estão lendo" uma resenha do "Uhuru", livro infanto-juvenil que lancei no segundo semestre do ano passado. Confiram estas e outras resenhas no blog "O que elas estão lendo", um lugar obrigatório para quem gosta de ler e estar em contato com outros leitores que têm o que dizer: http://elasestaolendo.blogspot.com/2010/04/uhuru.html

29 de março de 2010

Sobre “metodologias” de escrita de romances

Seguindo a sugestão do colega “Escriba Encapuzado”, preparei este post sobre metodologia de escrita. Muito do que eu pensei em escrever para este artigo já foi dito por ele, em http://escribaencapuzado.wordpress.com/2010/03/13/metodologia-510/#more-506 – confiram! Antes de mais nada, vale dizer que cada escritor tem seu método próprio – que não necessariamente farão sentido para você! Para ficar em apenas um exemplo esdrúxulo: Isaac Asimov, o mais prolífico escritor de Ficção Científica, só conseguia escrever quando era continuamente interrompido – tanto que em certa entrevista ele relatou que, ao se casar pela segunda vez, sua nova esposa fazia tanto silêncio na casa que ele não conseguia se concentrar, e teve que pedir para ela vir ao seu escritório de vez em quando “para perturbá-lo”. Obviamente há uma história que motivou este hábito, que posso contar em outra oportunidade. Após ler diversos livros e conversar com vários escritores, hoje acredito que podemos dividir os métodos de trabalho entre dois extremos, com inúmeras graduações entre eles. De um lado, temos o método chamado de “pegadas na neve” ou “pegadas na areia”, ensinado por muitas oficinas de escrita criativa, especialmente as criadas a partir dos cursos de graduação em produção literária dos Estados Unidos, que seguem este método. Basicamente, neste método o autor define os personagens e suas motivações, estabelece um rumo inicial para a história, e “sai escrevendo”. Escreve, escreve, escreve, e quando percebe que algo não se encaixa, e não consegue achar uma boa solução para evoluir a trama, ele volta atrás (seguindo a trilha que deixou, suas “pegadas”) até o ponto onde a história tomou o rumo atual e, jogando tudo dali para fora no lixo, começa a escrever em uma nova direção. Um dos exemplos mais famosos de uso desta técnica é o de Fernando Sabino, que escreveu 1300 páginas para “O Encontro Marcado”, e aproveitou somente 320. E não se enganem: esta forma de escrita, apesar de parecer pouco produtiva, gera excelentes histórias! No outro extremo, temos uma abordagem que podemos chamar de “estruturalismo” ou abordagem “top-down” (de cima para baixo), seguindo o uso comum deste termo no gerenciamento de projetos. O autor começa com uma idéia, depois a detalha, descrevendo pontos principais de uma trama, depois as cenas ou capítulos que ligam estes pontos, para finalmente, com a estrutura definida, começar a escrever o livro. Neste caso, a organização do livro pode seguir ou não uma das diversas estruturas sugeridas para isso, como por exemplo a estrutura da “Jornada do Herói” descrita no livro “O Herói de Mil Faces” (de Joseph Campbell), ou a estrutura de roteiros de cinema (que funciona bem para livros) do “Manual de Roteiro” (de Syd Field). A vantagem desta abordagem é que diminui a ocorrência de “bloqueios”, pois o autor já sabe a priori para onde a trama irá evoluir – embora muitas vezes ela passe por outros pontos, conforme a história vai evoluindo. Minha experiência pessoal: Organizar as idéias antes de escrever, para ter uma boa noção da estrutura da história, ajuda muito. Escrevi “O Nome da Águia” (http://www.onomedaaguia.com/) seguindo uma abordagem estruturalista bem detalhada e o resultado, modéstia à parte, ficou muito bom. Já em “As Incríveis Memórias de Samael Duncan” (título provisório), que estou escrevendo agora, eu segui uma abordagem totalmente ao estilo das “pegadas na neve”; o resultado foi tão bom quanto o anterior, ou até um pouco melhor, mas ao chegar mais ou menos ao meio da obra precisei parar e planejar os próximos passos, porque fiquei “bloqueado”. A dica mais importante continua sendo, sempre: escreva! Só se aprende a escrever escrevendo.