4 de fevereiro de 2011

Pronto, já montei a estrutura do meu romance... e agora?


o ano passado, comecei uma série de posts sobre os primeiros passos para se escrever um romance, interrompida por alguns posts que tinham, digamos, "mais urgência" para serem publicados. 
Relembrando os posts anteriores:
Em "Primeiras coisas primeiro", falei da necessidade da premissa para dar o direcionamento do livro. Provavelmente me lembrei de mencionar que é pela premissa, hoje, que estúdios de Hollywood compram roteiros e grandes editoras americanas compram novos títulos.
Em "Preparando a estrutura", falei do passo seguinte, que é organizar a estrutura da obra. Reforcei a necessidade desta estrutura no post seguinte, até porque muita gente parece não entender que a estrutura liberta, e não amarra.
Curiosamente, os três últimos escritores que entraram em contato comigo à procura de trocar idéias tinham o mesmo problema: haviam escrito dois ou três capítulos e estavam "travados", sem saber como continuar.  Como falei com cada um deles, a própria pergunta já trás a resposta: NÃO se começa a escrever um livro pelo primeiro capítulo, mas pela estrutura.  Tendo a estrutura pronta, não há como "dar branco"! "Aprenda a controlar o demônio do escritor, que quer escrever um texto bonito quando na verdade você precisa é escrever uma cena"
James McSill, no Write in Brasilia (de memória)
Aliás, o próximo passo, após a estrutura, ainda não é a escrita dos capítulos. A divisão dos capítulos é uma escolha que pode ser feita ao fim do livro, quando a obra estiver quase concluída.
Quando a estrutura estiver pronta, o que temos é a descrição completa do livro em poucos tópicos, em meia página de texto (reveja o exemplo em "Preparando a estrutura").  Se começarmos a escrever a partir da estrutura, muito provavelmente vamos topar com as mesmas dificuldades de quem escreve sem estrutura, pois neste momento tudo o que temos é um mapa em um nível muito alto.
O próximo e óbvio passo é detalhar as cenas do livro.  Sem entrar em muitos detalhes (isso é assunto para um capítulo extenso em um livro), podemos dizer que cada cena é uma "unidade de ação".  Pense em uma cena dentro de um filme, que você vai estar na linha certa. Diversos livros propõe a abordagem por cenas, e cada um deles destaca e detalha diferentes elementos que obrigatoriamente precisam estar presentes em cada cena. A microestrutura mais simples para uma cena determina que ele precisa ter:
  • Um protagonista: O personagem principal da cena (não o do livro).
  • Um objetivo: a ser alcançado por este protagonista, até o fim da cena.
  • Um obstáculo: que atrapalha o protagonista no atendimento de seu objetivo, e que deve ser superado dentro da cena.
  • Um resultado: é o resultado imediato da cena. Este resultado pode ser chegar mais perto de sua meta, aprender algo, conseguir uma amizade importante para a trama, etc
É essencial que toda cena tenha um motivo para estar ali; nunca inclua, por exemplo, uma cena para homenagear uma amigo ou parente (isso é mais comum do que parece!) que não agregue valor ao livro - o leitor VAI perceber!
Outro ponto importante é a simplicidade, a objetividade: não inclua sentimentos, metáforas, frases bonitas ou coisas do gênero ao produzir as cenas.  Seguindo, por exemplo, a microestrutura sugerida acima, cada cena terá quatro linhas, no mínimo, e seis linha no máximo.  Atenção: As cenas ainda não são seu livro, tudo o que foi escrito até este momento será jogado fora depois; aqui você está apenas montando a planta da casa, a construção da casa é uma matéria bem diferente - mas tente montar uma casa sem uma planta, e você entenderá a necessidade destes passos!
Ao terminar de escrever as cenas, você terá algumas poucas páginas de texto, mas nestas páginas você terá uma visão bastante precisa sobre o que será sua obra. 
É o momento, agora, de começar a escrever o primeiro tratamento do livro... que ainda não é o livro, mas falaremos disso no próximo post!
Gostou? este post!

4 comentários:

Fernando Rodrigues disse...

Muito bom! Tenho lido alguns livros relacionados ao processo de "criação de um romance" e as dicas aqui descritas (neste e nos outros posts) seguem o que os grandes escritores sugerem, quando se propõem a falar sobre o assunto. A questão da liberdade do escritor no momento de projetar e compor o texto também são mencionadas. Para nós, aprendizes de escritor, estas dicas (substanciais ensinamentos, eu diria) são muito importantes. Acompanho seu blog, como ávido aprendiz, e agradeço por compartilhar sua sapiência. Abraço!

Alexandre Lobão disse...

he he... "sapiência" foi ótimo!
Somos todos aprendizes, pode ser que eu já tenha um pouco mais de tempo de estrada que algumas pessoas, mas isso não me faz mais sábio, no máximo, mais experiente.

Grato pelo apoio!

Alexandre Lobão disse...

he he... "sapiência" foi ótimo!
Somos todos aprendizes, pode ser que eu já tenha um pouco mais de tempo de estrada que algumas pessoas, mas isso não me faz mais sábio, no máximo, mais experiente.

Grato pelo apoio!

Anônimo disse...

ERRATA: traz a resposta e não trás.