21 de fevereiro de 2011

Escrever (e publicar) em inglês ou português?

Caros colegas que acompanham este blog: estou passando algumas dificuldades, pelo que darei uma "relaxada" com as postagens, principalmente com o visual por algum tempo.
Segue uma mensagem trocado com um colega, respondendo à questão:
"o momento estou iniciando meu segundo romance e nao estou certo se devo fazê-lo em português ou em inglês.

Qual a sua percepção sobre esse assunto? De um lado escrevo apenas pelo prazer de escrever e gosto de passar o livro aos conhecidos para lerem e se escrevo em inglês eu nao teria esse prazer. .... de outro existem as vantagens (será que existem?) de se publicar em inglês (que talvez se perca no mar de livros e acabe no ostracismo)."
Para escrever em inglês e ter chance de ser publicado, você precisa planejar o livro para aquele mercado, usando técnicas vistas como mais "profissionais" por eles para estruturação da obra e de cada uma de suas cenas. Se você ainda
 não fez uma oficina com a James McSill (vai haver duas em breve, aqui no Brasil, veja detalhes no meu blog) ou leu pelo menos uns dois ou três livros sobre o assunto (pelo menos "Techniques of the Selling Writer" de Dwight V. Swain e "A Jornada do Escritor" de Christopher Vogler são obrigatórios), então sugiro escrever em português, mesmo.


Then again, você pode fazer algo diferente e chamar atenção justamente por isso; pelo que esta dica pode ser totalmente inócua!

De maneira geral, se for para escolher entre escrever e traduzir ou escrever direto em inglês, o ideal é escrever em inglês. As dificuldades para vender algo lá fora são muitas, mas se você tiver verba, a "dica de ouro" é participar de algum evento para escritores onde aconteçam "pitch sessions". Nesta sessões, você terá de um a três minutos, normalmente, para apresentar seu projeto - NÃO precisa ser um livro pronto, e elas são a (única?) forma de saber se sua ideia tem aceitação naquele mercado. Encontrando um interessado, negocia-se prazo e, inclusive, algum adiantamento (recebi 7.000 dólares em meu primeiro livro publicado lá fora, por exemplo) que pode ajudar a pagar um bom revisor que fale inglês nativamente.

Vantagens? Bem, ganhar em dólares é a maior vantagem, seguida, obviamente, de ganhar MUITO em dólares, uma vez que uma obra em português pode ser vendida em poucos países, enquanto uma em inglês vende-se no mundo todo. Além disso, como o Brasil tem ainda um certo ranço do colonialismo cultural que sempre sofreu, se você publicar em inglês e fizer sucesso, obviamente será mais valorizado no Brasil, suas obras anteriores podem vender mais e seu livro com certeza será traduzido para o português mais tarde! :)

Mas retornando aos problemas: além da dificuldade inata a este mercado ser bem maior que a do Brasil (e olha que tem muita gente que reclama do mercado Brasileiro...); conseguir publicar lá não é uma garantia de sucesso, e pode ser o oposto: são publicados dezenas ou centenas de livros ao mês, pelo que seu livro irá para as livrarias e retornará à editora (com sorte) dois meses depois. Se em dois meses seu livro não vender, ou vender pouco, não só as livrarias não vão pedir mais, mas a editora não irá querer saber de você, e como o mercado é muito informatizado e informado, outras editoras provavelmente recusarão novos trabalhos seus, a menos que sua carreira no Brasil decole muito e você consiga provar que apostar de novo em você vale à pena.

O assunto é para uma semana à mesa de bar, mas acho que já deu para ter uma noção...

Vamos nos falando!

11 comentários:

Edson Gomes disse...

Caro Alexandre,
eu só tenho uma coisa a dizer sobre tudo isso. Jorge Amado e Paulo Coelho se tornaram reconhecidos mundialmente porque escreviam em português. E Jorge só falava da Bahia e os estrangeiros adoravam isso.
Um grande abraço.

Edson Gomes disse...

Caro Alexandre,
eu só tenho uma coisa a dizer sobre tudo isso. Jorge Amado e Paulo Coelho se tornaram reconhecidos mundialmente porque escreviam em português. E Jorge só falava da Bahia e os estrangeiros adoravam.
Um grande abraço.

R.A.M.P. disse...

Legal, não vejo porque começar no inglês!

Se fizer sucesso aqui, aí a tradução é só mais uma etapa.

abraço

Alexandre Lobão disse...

Hehe... Com certeza, não existem regras. Publicar em inglês normalmente dá resultados mais rápidos (especialmente financeiros) se o trabalho for um sucesso; mas se o trabalho for de qualidade, a resposta do público independe da língua.
Eu particularmente acredito que quando o escritor é bom, ele fará sucesso inevitavelmente - desde que não desista antes de chegar lá!
[]s

Buquês Artesanais disse...

Caro Alexandre, conhece autores brasileiros que publicam em inglês e obtiveram sucesso fora do Brasil por conta disso? Pergunto isso porque há autores de países asiáticos, por exemplo, que publicam em inglês e até mesmo moram nos EUA ou na Inglaterra para terem maior visibilidade como romancistas. Em muitos casos, suas carreiras decolaram. Obrigada

Alexandre Lobão disse...

Quanto à questão proposta neste último comentário, o que sei é que o mercado Americano é extremamente resistente a autores externos; mesmo autores ingleses tem alguma dificuldade em vender lá; daí vários autores usarem pseudônimos e conseguirem endereços nos EUA (mesmo que não morem lá) para conseguir entrar no mercado. Eles compram coisas "de fora", sim, mas quase sempre pelo "exotismo": é o misticismo dos livros do Paulo Coelho, o retrato da India em "Slumdog Milionarie", e coisas do gênero. A Inglaterra é ligeiramente mais aberta.
Sei que há autores brasileiros de relativo sucesso nestes mercados, escrevendo especificamente para eles, mas não sei - ou não posso :) - falar quem são e quais pseudônimos usam.

Anônimo disse...

Boa tarde! Gostei bastante das dicas que você deu e compreendo perfeitamente o que você quer dizer com as vantagens de se escrever em inglês. Apesar de termos grandes autores brasileiros que não precisaram deste recurso para alcançar a fama e a tal recompensa monetária desejada, sabemos que o mercado de livros no nosso país não é fácil e, quanto mais jovem o escritor, menos credibilidade tem. Felizmente eu tive a sorte de crescer na Europa e, por isso, tive mais oportunidade de lançar o meu livro aqui fora, mas creio que não me levará aonde eu quero. Sabemos que os EUA são o centro do mundo em vários aspectos e que se queremos chegar atingir uma alta meta, temos que recorrer a eles, porque a sorte de Jorge Amado não é para todos. Um bom romance leva em média um ano para ser construído e concluído, em inglês levará talvez até o dobro do tempo, mas começo a pensar que vale realmente a pena considerar esta ideia que a princípio parecia nada mais do que tola. Parabéns pelo blog, foi de grandessíssima ajuda.

Anônimo disse...

Em resposta ao Edson: Paulo Coelho só conquistou o mercado americano (e, em seguida, o mundial) porque teve a sorte de ser lido pelo Allan Clarke, um professor universitário americano apaixonado por literatura brasileira que leu "O Alquimista" (ou foi o "Diário de Um Mago", não lembro agora), entrou em contato com o Paulo Coelho e se ofereceu não apenas para traduzir (o que normalmente custaria uma nota preta), mas também para apresentar a tradução a um amigo dele na...HarperCollins!! Não tiro o mérito comercial dos livros do P. Coelho, muito pelo contrário, mas foi uma história única e raríssima de ser emulada, essa de calhar de ser lido por alguém como Allan Clarke, o qual, se não me engano, já faleceu (triste notícia para os brasileiros que talvez quisessem enviar livros/manuscritos para ele). Já o Jorge Amado nunca vendeu muito nos EUA, quase nada, pra falar a verdade, se comparado às cifras que os americanos consideram como sucesso literário. Vendeu um pouco melhor na França, na Espanha, na Alemanha e em países europeus onde normalmente há mais leitores interessados em literatura de "Terceiro Mundo" (e em Portugal, é óbvio). Tirando o caso único e raríssimo do Paulo Coelho, um fenômeno de se tirar o chapéu (e que escrevia sobre temas do tipo "universal"), nenhum escritor brasileiro escrevendo em português, e muito menos sobre temas tipicamente brasileiros, jamais fez sucesso nos EUA e, quando muito, vendeu um pouquinho na Europa...e olhe lá. Os poucos que escrevem em inglês e fazem algum sucesso nos EUA, como disse o Alexandre, o fazem sob pseudônimos anglo-saxões. E, com certeza, mesmo não sendo mega-blockbusters do mercado americano, ganham muito mais dinheiro do que um escritor brasileiro de ficção escrevendo em português para o minúsculo mercado brasileiro.

Alexandre Lobão disse...

Obrigado pela contribuição e pela resposta, caros. Só vou pedir que se identifiquem nas próximas, nem que seja escrevendo seu nome ao final do comentário, por um simples e egoístico motivo: acho muito estranho conversar com alguém sem saber seu nome ou pseudônimo! hehehe...
Não tenho muito mais a acrescentar sobre o que vocês falaram, acho que é por aí; mas não é porque nunca aconteceu, ou só aconteceu com o Paulo Coelho, que devemos deixar de procurar um espaço neste mercado.
Um paralelo pode ser feito com o caso do André Vianco, escritor de livros de terror no Brasil. Este mercado não aceitava autores nacionais, mas o Vianco foi lá, abrindo espaço aos poucos, e hoje é um dos poucos autores que vivem apenas de escrever no Brasil. Há 15 anos, se alguém falasse que um autor nacional faria o que ele fez, seria motivo de riso. Hoje, há vários outros procurando espaço neste nicho que ele abriu.
Quem sabe um de nós não vai quebrar este "bloqueio" do mercado americano?
[]s!

Anônimo disse...

Fazer sucesso no Brasil, só pagando caro. Tente chegar de fora, escreva primeiro em inglês.

Alexandre Lobão disse...

Oi "Anônimo",
Os mercados americano e inglês são extremamente fechados, ainda mais para quem não é do país. Os americanos são extremamente "bairristas", quase só leem autores americanos, com raras exceções - até Harry Porter, que é inglês, vendeu menos lá (em termos percentuais) que em outros países. Então escrever em inglês não é uma solução, é apenas trocar um problema por outro - aí depende de cada um analisar em qual mercado tem mais contatos, conhecimento, chance de entrar.
E no Brasil, como em qualquer lugar, sucesso só vem quando se paga caro: é necessário ter coragem para gastar MUITO tempo e esforço não só melhorando a qualidade do que escrevemos, mas também indo atrás, participando de feiras e bienais, fazendo contatos, conhecendo o mercado. Não necessariamente se precisa gastar dinheiro.