Acredito que uma das coisas mais difíceis para o autor iniciante é escrever bons diálogos. Na verdade, confesso que recentemente li alguns autores já reconhecidos que tem problemas com isso. Portanto, esqueçamos o "iniciante" na frase anterior. Há diversos "crimes" que podem ser cometidos contra um bom diálogo. Assim, de cabeça, vou tentar lembrar de alguns que realmente me incomodam quando estou lendo um livro:
- Lecturing: Perdoem o estrangeirismo, mas é que a palavra mais próxima em português para isso seria "lecionar", e ela não representa bem o sentido original, quando falando de diálogos, que é algo mais perto de "apresentar palestra" ou, quem sabe, "panfletar". Fico bastante incomodado quando um personagem fica apresentando explicações que não se enquadram no texto! Se você sente necessidade de colocar um personagem explicando alguma coisa (seja a resolução de um mistério, um dado técnico de alguma coisa ou uma lição de moral), tome cuidado: há uma grande chance de seu texto estar com algum furo, pois de forma ideal o leitor entende um livro sem necessidade de palestras! Por vezes, uma ou outra explicação pode ser necessária, mas cuidado, evite colocar um personagem perguntando mil coisas para o outro, que vai explicando, explicando, por páginas a fio, apenas interrompido pelo indagador, que volta e meia faz alguma pergunta para permitir que a explicação continue. Além de quebrar o ritmo da narrativa, esta abordagem passa a impressão de que o personagem que pergunta é um tolo ou um chato...
- Monólogos a dois: Nada é pior que um diálogo onde todos os personagens tem a mesma “voz”! Defina bem o background de seus personagens, tenha sempre em mente quem cada um deles é, seu passado, sua forma de agir. Há duas formas para estes monólogos: Quanto ao conteúdo, quando um personagem fala uma coisa, e o seguinte continua a idéia, e assim por diante, mostrando uma homogeneidade muito grande de idéia; e quanto à forma, onde todos os personagens “soam” iguais, mesmo com idéias diferentes. Uma criança usa palavras diferentes que um idoso, e pessoas do Nordeste vão usar termos diferentes de um sulista, atenção para estes detalhes!
- Clichês, jargões e outros bichos: Cuidado ao escrever os diálogos! Evite colocar seus vícios de linguagem, ou pior, de escrita, na boca dos personagens. Advogados, médicos e analistas de informática são célebres por utilizarem uma “linguagem própria” no seu dia a dia; e isso não se restringe a estas profissões. Lembre-se: um personagem só deve utilizar jargões e clichês ou um vocabulário pouco usual em um diálogo se isto fizer sentido na história!
- Ninguém é um só: Uma última dica: ninguém é um só! Uma pessoa gozadora tem seus momentos de tristeza e seriedade, e mesmo uma pessoa com depressão patológica se permite alguns momentos de felicidade e esperança. Não transforme seus personagens em estereótipos – exceto, talvez, se você desejar dar-lhes um efeito cômico!
Para fechar: Sábado passado estive com os autores da “Casa de Autores” em Unaí, MG, apresentando a palestra “Formando os escritores de amanhã”, sobre como formar leitores, formando escritores. Sábado que vem, estarei com a “Casa de Autores” falando com leitores em um evento no Shopping de Valparaíso, GO. Como já falei antes, “o gado só engorda sob o olhar do dono”.
Mais sobre isso em futuros posts!