ivendo e aprendendo.
Antes de falar de diálogos, um rápido complemento ao post sobre a importância do planejamento: tão importante quanto definir um tempo para escrever é você definir um tempo para não escrever. Minha tendência, após definir as metas, é sempre fazer o máximo para superá-las. Nesta linha, há três semanas que escrevo pelo menos uma hora todos os dias, e estou com isso conseguindo manter o ritmo de produção. O problema é que, na ansiedade por superar minhas metas, eu estive constantemente procurando brechas em meu dia para escrever um pouco mais. O resultado disso é que, efetivamente, eu escrevi bastante; só que a custo de muito stress.
Alertado pelo colega escritor Fabrício, comecei a prestar atenção nisso e decidi não escrever no mínimo uma hora por dia, decidi escrever exatamente uma hora, além de tirar um dia por semana para não só não escrever, mas também nem mesmo pensar nisso. Estas decisões me deixaram bem mais tranquilo, e por (mais uma) experiência própria recomendo a todos escritores: planejar para o projeto sair do papel, e dar-se algum tempo livre para não enlouquecer. |
Mas vamos aos diálogos!
Apenas para não ficar me repetindo, gostaria de começar remetendo-os a dois posts mais antigos sobre diálogos, com alguns pontos importantes sobre o assunto. O primeiro é o post Como escrever diálogos, que já dicas bastante precisas para a criação de diálogos, e outro é este post com uma transcrição de uma conversa que tive por email sobre o assunto.
As regras para criar diálogos são bem simples, e os problemas são fáceis de serem percebidos se você ficar atento. | “Uma conversa é um diálogo, não um monólogo. É por isso que há tão poucas boas conversas: é raro encontrar duas pessoas inteligentes para conversar”
Truman Capote, escritor, jornalista e pioneiro do "romance jornalístico", que é uma visão romanceada de fatos reais.
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Estes dois posts resumem muito do que se há para dizer sobre diálogos, a meu ver, mas podemos completá-los com algumas regras para conferir a qualidade de seus diálogos:
- Evite o excesso de tags - aquelas chamadas que indicam quem falou, por exemplo, "Fulano disse:", "Sicrano falou:", etc. De maneira ideal, quem falou está sempre claro pelo correr natural da história.
- Da mesma forma, evite excesso de adjetivação nas tags. Por exemplo, "Fulano falou, furioso:", "Sicrano respondeu, indignado:", "Fulano retrucou, incomodado:". Assim nenhum leitor aguenta! :) Quem precisa chamar a atenção são os personagens, suas falar e suas ações, não suas tags.
- Evite diálogos muito longos, com conversas intermináveis entre personagens. Se você tem mais do que quinze linhas seguidas só com diálogos e tags, confira se não está exagerando na dose.
- Evite, também, falas muito longas de um personagem. Se um personagem falou mais que cinquenta palavras de uma só vez (exceto em casos excepcionais), comece a desconfiar.
- Confira se seus personagens têm vozes distintas, se cada um realmente soa como uma pessoa diferente. Por isso a definição dos personagens é tão importante: se você define bem o perfil dos personagens desde o princípio, quando for escrever o primeiro diálogo cada um deles já terá uma personalidade, um jeito de ser e um conjunto bem definido de ideias que ajudará a dar esta voz;
- Evite que seus personagens expliquem coisas demais em um diálogo. Pense no mundo normal: ninguém (exceto alguns chatos...) fica dando aula sobre filosofia, história ou qualquer assunto enquanto conversa com os outros.
- Evite diálogos sem conflito. Conflito gera tensão, e é isso que faz a história seguir adiante; diálogos sem conflitos, sem pontos divergentes de vista, são diálogos sem alma.
- Na vida real, nós falamos muito besteira sem sentido, que não leva a nada. Nos livros, prepare-se para cortar todos os diálogos que falam sobre temas irrelevantes para a trama! Tenha sempre em mente a frase do mestre do cinema Alfred Hitchcock: "O drama é igual à vida, mas sem as partes chatas".
- Outra dica essencial: Não escreva como se fala! As falas dos personagens sempre são mais "cultas" que as falas no mundo real. Se você precisa mostrar que um personagem é inculto, ou que tem determinado sotaque, coloque uma ou outra palavra no início do diálogo, que o leitor projetará o resto com sua imaginação. Os leitores não estão acostumados a ler livros cheios de erros gramaticais nos diálogos, mesmo que nós os cometamos no dia a dia.
E uma última dica: aprenda pelo exemplo. Procure autores que escrevem bons diálogos dentro da linha que você escreve, e releia seus diálogos com um olho mais analítico, vendo o tamanho das frases, o uso de vocativos, gírias, regionalismos, forma culta da língua, etc. Luis Fernando Veríssimo, por exemplo, tem excelentes e divertidos diálogos sobre assuntos variados, quase sempre mundanos. Orson Scott Card, apesar de escrever livros de ficção científica, tem uma capacidade incrível de escrever diálogos que soam reais, e que ele atribui ao tempo em que escrevia apenas peças de teatro.
No fundo, nos diálogos como no resto da arte de escrever, não há mágica: para fazer bem, faz-se necessário pesquisar, estudar e, principalmente, praticar. Se você tem alguma dica a acrescentar para os colegas, pode colocar nos comentários, que completarei na lista acima - com os devidos créditos! |
10 comentários:
Excelentes dicas, Alexandre. Mais uma vez está de parabéns. Sempre tive (e talvez ainda tenha) dificuldade em criar bons diálogos, mas com estas dicas isso muda completamente. Só gostaria de saber mais sobre aquela parte dos perfis dos personagens.
Aproveito para divulgar meu blog: http://diadeleitor.blogspot.com.br/
Oi, Lobão.
Gostei muito desse post, é incrível como os diálogos quando bem escritos deixam a estória bem mais dinâmica e faz com que a voz de cada personagem seja bem diferente uma da outra. Vou tentar aplicar mais esse recurso qndo estiver escrevendo.
Abs
Mestre Lobão!!! Sempre tão pertinente. Tenho me preocupado muito com os diálogos em meu livro, tanto que acho que estou cometendo o pecado que alertou aí, acho que estou exagerando nos diálogos e seu post me ajudou muito nisto. Obrigado Meu Amigo. Fico também muito grato pela carinhosa mensão que fez em meu nome e dizer-lhe que é uma honra desmedida saber que posso contribuir com um profissional do seu nível!!! Abraços
Fabrício
Eu acho que fica complicado o "Não uso excessivo de tags" quando a cena tem muitos personagens, como uma reunião onde todos são ativos o.o'
/Sei lá, tipo uma liga da justiça da vida =PP
Mas, em uma cena com um dialogo entre só duas pessoas, acho tags meio desnecessárias mesmo.
Excelente post. xDD'
Wendy.
Oi "Dia do leitor" ;)
Obrigado pela força. Anotei aqui, e em um futuro post detalho esta questão dos perfis dos personagens.
[]s
Oi jolie,
Obrigado pelo incentivo. O assunto é extenso, mas com uma dica aqui e outra ali a gente vai aos poucos pegando o jeito da coisa.
A propósito: Seu diálogos são bons, aprofundando o perfil dos personagens tenho certeza de que você não teria problemas para escrever um romance.
[]s
Fabrício,
Você escreve bem, só tome cuidado para não exagerar nos elogios, como fez neste comentário! :)
[]s,
Oi Wendy,
Se você reparar bem, raríssimos diálogos, mesmo na vida real, ocorrem entre diversas pessoas. Normalmente, as conversas acontecem sempre entre duas pessoas, depois entre outras duas ou três, e por aí vai, mesmo que seja em uma grande conferência!
O macete para não usar tags é deixar o texto sugerir quem vai falar. Por exemplo, ao invés de:
"João se abaixou, pegou o lenço que caíra e falou:
- Maria, isso é seu?"
Fale, simplesmente:
"João se abaixou e pegou o lenço que caíra:
- Maria, isso é seu?"
Ou seja, incluindo uma ação do personagem logo antes da fala, o leitor entende quem está falando, mesmo que a ação não seja relacionada com o diálogo.
Oi Alexandre, essa sua última dica foi ótima, poderia incluí-la no post. Abraços.
hehe... Obrigado, Fátima. Não gosto de mexer em posts já publicados, mas fica a ideia para o próximo post sobre o assunto.
[]s!
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