19 de agosto de 2014

O muito comum lugar-comum, por J. B. Oliveira

Quem acompanha o Vida de Escritor sabe que não é comum que eu publique artigos de outros escritores... As honoráveis exceções são realmente isso, honoráveis... E me perdoem pelo lugar comum...
Com vocês, um texto do incomparável  J.B.Oliveira!


lugar-comum. S. m. 1. Fonte de onde se podem tirar argumentos, provas etc., para quaisquer assuntos. 2. P. ext. Fórmula, argumento ou ideia já muito conhecida e repisada. 3. Trivial; trivialidade. [Sin., nas acepções 2 e 3: chapa, chavão, clichê. Pl.: lugares-comuns.]
 
É o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa que assim define o verbete lugar-comum. A primeira acepção é branda, amigável. As duas outras são mais severas, condenatórias, indicando que sua utilização não é recomendável por traduzir redundância ou irrelevância. Em outras palavras: ou consiste na repetição de fórmulas muito conhecidas e repisadas – na acepção número dois – ou se refere a banalidades, vulgaridades mesmo, no sentido número três.

Por representar uma forma de empobrecimento da língua, o lugar-comum torna-se um vício de linguagem, ao lado de tantos outros, igualmente condenáveis, como: pleonasmo, plebeísmo, barbarismo, solecismo e que tais, todos comprometedores da beleza e estética do idioma.

O interessante é que, às vezes – e felizmente – alguns deles caem em desuso e acabam no esquecimento. Até porque outros vêm ocupar seu lugar nas mensagens da mídia e dos comunicadores (querem a aplicação de um lugar-comum? Então aí vai: “dos comunicadores de plantão!”).

Ora, sendo a nossa “Última flor do Lácio” uma das mais ricas, belas e flexíveis línguas do mundo, com algo ao redor de 435.000 verbetes e 510.000 palavras, não se justifica que alguém fique a repetir mecânica e, muitas vezes, inconsequentemente, frases feitas e – não raro – malfeitas! Em conversa com o excelente comunicador Flávio Prado, ele relatou o caso de um colega, a quem perguntaram sua opinião sobre determinado lance e ele não pestanejou, “mandou” um sonoro “Para mim foi ‘Sine qua non’”! Essa expressão latina, muito usada no meio jurídico, significa apenas “sem o que não” e se aplica ao caso em que determinada coisa é absolutamente indispensável: “a presença de um advogado é conditio sine qua non para que se realize um julgamento”. Já se pode ver que o uso desse clichê foi totalmente descabido!

Há algum tempo, sempre que alguém fazia alusão à implementação de uma melhoria, por exemplo, em algum setor da empresa ou da sociedade, o chavão era: “Será um salto de qualidade”.

Mas é evidente que, para que isso acontecesse, tornava-se necessário “Fazer a lição de casa”... Isso porque, se as coisas não dessem certo, seria preciso o quê? : “Correr atrás do prejuízo”. (Sempre indago: para que correr atrás do prejuízo? Eu prefiro correr atrás do lucro, porque este eu quero alcançar e não aquele!).

De igual modo, para estimular uma pessoa a assumir uma postura inovadora ou ousada, dizia-se que, com tal atitude, ela iria “Fazer a diferença” ou “acrescentar um plus” (alguns, achando que isso era pouco, reforçavam: “acrescentar um plus A MAIS!”)

Queixando-se das dificuldades enfrentadas para obter os resultados financeiros que busca, é tristemente comum ouvir alguém exclamar – e reclamar – que “tem que matar um leão por dia”!

E se, por acaso, também encontra dificuldades de relacionamento no serviço, ainda tem que “engolir sapo”...

Durante o carnaval, toda vez que, nos desfiles, um bloco – pela boa apresentação da bateria, de uma ala, das alegorias ou por qualquer outra razão – causa sensação na assistência, o narrador dispara um sonoro: “A escola levantou a arquibancada!” Isso quer dizer que o grupo “caiu no gosto” do público!

Por sua vez, na área esportiva, quando um atleta se classifica para participar nos jogos olímpicos ou em outro certame importante, o que ele fez? “Carimbou o passaporte”!

Estou certo de que um dia nossos profissionais e órgãos de comunicação se conscientizarão desse empobrecimento linguístico e fugirão dos horríveis lugares-comuns!

“Quem viver verá”!

 Sobre o autor: J. B. Oliveira, Consultor Empresarial e Educacional, é Advogado, Professor e Jornalista. Presidente da A.P.I. (2006-09). Autor de “Mostrando a Língua”; “Boas Dicas para Boas Falas”; “Homens são de Marte, Mulheres são de Morte”  e 4 outras obras.  É membro da Academia Cristã de Letras e do Instituto para Valorização da Educação e Pesquisa e Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.

 

4 comentários:

Zulmira disse...

"Com certeza", amigos! Não devemos nos tornar uma "maria-vai-com-as-outras", mas sim "pensar fora da caixa" a fim de "agregar valor" às nossas "mal traçadas linhas".

Alexandre Lobão disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alexandre Lobão disse...

Oi Zulmira!
hehehe...
'Assino embaixo" de tudo o que você falou...
"E tenho dito"!

[]s!

Eduardo Prazeres disse...

"Então pronto". "Falou tá falado".