26 de janeiro de 2015

Dúvidas de Escritores: Mercado editorial, divulgação e cenas de abertura


O
 ano já está quase começando (afinal, o ano no Brasil só começa depois do Carnaval...), mas o trabalho de um escritor não termina nunca - então, vamos a mais um post da série Dúvidas de Escritores do Vida de Escritor!
Nesta edição, esclareço algumas dúvidas sobre mercado editorial, como iniciar um livro de forma a capturar o leitor e divulgação; com certeza três temas que todo autor precisa ter em mente.
A regra vocês já conhecem: Os posts anteriores desta série esclarecem um monte de dúvidas comuns a escritores e outros profissionais do mercado literário, mas se não acharem a resposta, não se apavorem: basta perguntar!
Questão: Acabo de ler o artigo "Sucesso dos autores estreantes" no site "Escreva o seu livro", e lá é afirmado que "uma edição independente ou por uma editora pequena pode “queimar o filme”, porque o que é bom para um autor independente é considerado um fracasso para uma livraria grande. Esse histórico cria resistência no livreiro em aceitar uma nova obra daquele autor". Confesso que fiquei um tanto preocupada porque planejo publicar em breve por meio de uma prestadora de serviços, e gostaria de não estar condenada a essa única opção para o resto da vida. Qual é o seu ponto de vista a respeito daquela afirmação?"Não só planeje escrever - escreva. Somente escrevendo, não sonhando com isso, é que você desenvolve seu estilo próprio"
P .D. James, escritora inglesa de livros policiais
Resposta: Bom, se qualquer coisa foi afirmada de maneira absoluta sobre o mercado editorial, de cara já pode descartar, porque cada editora tem seu jeito de ser, suas políticas de trabalho, sua forma de avaliar originais, etc.
A maior parte das editoras, acredito eu, vai olhar com melhores olhos um autor que já tem livros publicados do que um autor que está no primeiro livro, porque neste ramo como em qualquer outro, a experiência do profissional só melhora com a prática.
Meu primeiro livro saiu por uma pequena editora; os três primeiros do André Vianco foram auto-publicação, e por aí vai.
E ainda há o outro lado da moeda: se você de cara conseguir emplacar um livro pela Record, por exemplo, eles farão uma tiragem inicial de 5.000 exemplares. Se você não vender o suficiente e seu livro sair de catálogo, isso pode depor contra sua carreira, inclusive em outras editoras.
Ou não!
Cada caso é um caso; mas a meu ver você só deve ter uma preocupação: sair do ineditismo, e continuar escrevendo os próximos livros para montar sua base de leitores - o que (isso sim) facilita muito a venda para qualquer editora.

Questão: Muitas vezes tenho já o fim da história na cabeça, mas o começo, o primeiro capítulo, é o mais entravado. ... (O problema é) público imediatista, que exige ser conquistado no primeiro capítulo, senão na primeira página.
Resposta: O que não podemos esquecer é que o "público imediatista" é, basicamente, todo mundo - inclusive nós mesmos. A verdade é que poucos são os que têm paciência para continuar lendo um livro se, depois de vinte ou trinta páginas, ele não mostre nada de interessante - seja uma cena instigante, um mistério a ser resolvido, um personagem que desperta empatia ou a forma envolvente que o autor escreve. Não precisa começar com uma explosão ou uma cena de mistério super empolgante, mas o fato é que o leitor precisa ser cativado nas primeiras páginas, em qualquer tipo de livro.

Questão: Tenho muita dificuldade e pouquíssima empolgação para interações sociais. Queria muito apostar na imagem do autor fantasma. Daquela figura quase literária que todos conhecem o nome, mas poucos conhecem a fisionomia. Será que não há mesmo chance de apreciarem as minhas histórias e embarcarem nas aventuras das minhas ideias sem levar em conta a minha pessoa?
Resposta: A meu ver, só há uma alternativa a "mostrar a cara" em interações sociais: mostrar a alma em interações digitais. De qualquer forma, você precisa fazer seu trabalho chegar para o possível público leitor, ninguém vai "descobrir" você em meio a milhões de escritores na web, ou a milhares nas livrarias. Eu mesmo não sou muito dado a interações sociais, ou melhor, não era. À medida em que você vai fazendo isso, vai ficando mais fácil e - acredite! - divertido.
Veja o caso concreto: o da E. L. James, que escreveu "50 tons de cinza": ela escrevia fan-fics da saga Crepúsculo e continuamente divulgava seu trabalho (conta a lenda que eram diversas horas por dia...) entre fans da saga. Quando chegou a algumas centenas de milhares de leitores de seus textos, um editor se interessou em publicar o trabalho, com a ressalva de que ela precisaria tirar lobisomens e vampiros e deixar só a 'sensualidade' (entre aspas porque é bem mais que isso).
Então, se você preferir, pode até ficar na caverna, mas precisa ativamente divulgar seu trabalho via web.

E você, tem alguma dúvida sobre o processo de criação, publicação ou divulgação de seu livro? Participe!

Gostou? este post!

3 comentários:

Zulmira disse...

Obrigada por responder a minha dúvida. :)

Anônimo disse...

Não sei se seria fácil pra você, mas, pelo que já li no teu blog, teus conhecimentos de inglês são bastante avançados, já que você participa de seminários com autores americanos que palestram em inglês. Ok, sei que quase sempre há fones para tradução simultânea, por isso comecei dizendo que não sei se seria fácil pra você, mas todo esse meu papo é pra dizer que acho que você deveria escrever diretamente em inglês. A receptividade para escritores latino-americanos (ou, como eles gostam de dizer: hispânicos) tem crescido muito nos EUA, e você sabe melhor do que eu que existem várias maneiras alternativas, e para QUASE todos os bolsos, de se publicar nos EUA e/ou de se encontrar um agente lá que corra atrás de publicar teu livro. Vale muito a pena tentar, pois livros como o teu "O Nome da Águia", ainda que existam milhares de títulos e textos semelhantes no mercado dos EUA (perdão pela sinceridade, mas sempre creio que ser honesto é melhor, mesmo quando não pareça muito gentil), têm grande chance de ser publicados. Não se trata de ser um texto bom ou ruim, melhor ou pior do que A ou B, mas de ser bem vendido a uma boa editora, que o promova direitinho pois ela também quer vender muito, obviamente. E, conseguindo a impressão de alguns milhares de exemplares, peça uns 30 ou 40 para você mesmo...e envie para 30 ou 40 produtores de cinema dos EUA, entre produtores de filmes Z a grandes produtores de Hollywood. Se um único deles se interessar e comprar teus direitos para filmagem, e de fato vier a filmar teu livro, mesmo que seja um filmeco de quinta categoria...você já estará no seleto grupo de escritores cujos livros viraram filmes nos EUA, o filme, por pior que seja, vai correr o mundo inteiro em DVD, TVs a cabo, etc...e você já terá um primeiro portfolio para promover teu próximo título em inglês tanto junto a editoras americanas quanto junto a produtores de cinema dos EUA! Sei que parece megalomania utópica, mas, pense bem: não é nada impossível. E, se vai se matar de escrever e queimar a mufa para bolar uma boa história, e depois passar pelo tour-de-force de vender teu livro para editores...por que perder tempo com o mercadinho chinfrim do Brasil e não partir logo para um mercado de gente grande como o dos EUA?? Se for para fazer sucesso, mesmo que medíocre, melhor vender 50.000 cópias em inglês do que 5.000 em português! E uso o termo "medíocre" porque você sabe melhor que eu que 50.000 cópias nos EUA é um sucesso mediano (e que aqui seria incensado como o novo queridinho da Folha de SP e do O Globo...rsrs). Boa sorte e um abraço. Adriano Rocha/Rio de Janeiro-RJ

Alexandre Lobão disse...

Oi Adriano,
(obrigado por assinar!)
Tudo em Paz?
Adriano, já escrevi e publiquei cinco livros no mercado americano. Apesar de serem livros técnicos (sobre programação de jogos de computador), eu os escrevi em inglês, e olha que o primeiro tem 750 páginas!
A quetsão é que o mercado literário é BEM mais fechado. Já enviei propostas editoriais para diversos agentes americanos, e até estive nos EUA, em Los Angeles, conversando com um agente literário sobre "O Nome da Águia". Ele me recebeu bem, pagou meu jantar, disse que adorou tudo o que falei e lhe entreguei (alguns capítulos em inglês e a sinopse do livro); e depois nunca mais respondeu a meus telefonemas ou e-mails...
Meus estudos indicam que os "autores publicados" têm mais chances, e por isso eles entendem autores publicados nos EUA, ainda que em revistas. Então, minha meta para este ano é traduzir um conto meu ("Asas") que foi um dos ganhadores do último concurso FC do B, em 2011, e enviar para algumas revistas de lá. Sendo publicado lá, vou voltar à carga.
É assim que tem que ser: um passo de cada vez, e sem nunca desistir. :)
[]s e obrigado pela força!