em entrar no mérito das numerosas discussões filosóficas sobre o assunto, podemos classificar as estórias pelo elemento que mais fortemente as direciona: os personagens ou a trama.
Estórias plot-driven, direcionadas pela trama, são aquelas onde os personagens não são muito aprofundados e a ação fica em primeiro plano. Geralmente são estórias que seguem à risca a recomendação de Anton Chekhov de remover tudo o que não tem relevância para a trama: tudo que acontece ou aparece precisa ter um objetivo definido.
Em um outro extremo, o elemento preponderante nas estórias
character-driven são os personagens. Neste caso, as divagações
filosóficas e digressões diversas que fogem da trama principal não
apenas são aceitáveis, como bem vindas. Livros com estórias character-driven são os famosos “livros de cabeceira”, que para serem apreciados precisam ser lidos aos poucos, com o leitor entrando na vida dos personagens e curtindo cada pequeno momento. |
“Se no
primeiro capítulo você descreve um rifle na parede, ele precisa ser utilizado no máximo até o terceiro.
” Anton Tchekhov, escritor e dramaturgo russo |
Um belo exemplo de livros nesta linha é “O Jogo da Amarelinha”, de Julio Cortázar. A obra apresenta a vida de Horácio Oliveira, argentino que, vivendo em Paris, se reúne com um grupo de amigos intelectuais que se autodenomina “Clube da Serpente”. Enquanto os membros do grupo discutem arte, política, música e filosofia, em interessantes divagações, Lúcia, namorada de Horácio, encara a vida de uma forma muito mais simples, invejando a capacidade dos demais de realizar debates profundos, mas sendo muitas vezes a expressão real de um ideal que eles procuram. O livro acompanha as idas e vindas de Horácio e da “Maga”, como ele chama Lúcia, que refletem as dúvidas existenciais do protagonista, que o perseguem mesmo depois de ele perder o contato com a Maga e retornar à Argentina, vivendo novas experiências com outros interessantes personagens. Sendo considerada uma das primeiras obras surrealistas da literatura argentina, um dos grandes atrativos do livro é a forma como foi construído: ele pode ser lido de diversas formas diferentes. Como o título dá a entender, o objetivo do autor é que o leitor tenha a liberdade de saltar capítulos, lê-los fora de ordem e, ainda assim, entender a história. Já no prefácio, Cortázar adverte que o leitor pode ler os primeiros 56 capítulos e dispensar todos os seguintes (são 155 ao todo), ou pode procurar formas de ler o livro como um todo, apresentando algumas sugestões de sequências que podem ser seguidas. Lendo alguns ou todos os capítulos, a história é a mesma: a busca de Horácio por um sentido para sua existência e uma forma menos restritiva de encarar a vida, representada pela visão que a Maga tem do mundo. O que muda são as divagações, o entendimento dos segredos por trás de cada personagem, que a cada nova leitura se desdobram em novos níveis de profundidade. Vale a pena! |
E
você, que tipo de livros gosta de ler, e qual livro o marcou mais? Comente e
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