15 de outubro de 2018

Vale a pena participar de coletâneas?

T
enho recebido uma enxurrada de divulgações sobre coletâneas de contos.
Primeiro foram coletâneas de contos de fantasia, de ficção científica, de romance, policiais, eróticos...
Depois de esgotados os, digamos, "grandes gêneros", começaram a aparecer coletâneas de contos de subgêneros ou temáticas: steampunk, distopias, recontagem de clássicos, mashups, sick-lit, fim-do-mundo, zumbis, fadas, romance de época etc etc etc...
Serão estas coletâneas um fenômeno recente?  E, mais do que isso, vale a pena participar delas?
 
Quanto à primeira questão, a resposta é simples: Não. Sempre houve e provavelmente sempre haverá este tipo de coletâneas, usualmente promovidas por editoras que realizam concursos e publicam os trabalhos selecionados.
Algumas de minhas primeiras publicações, inclusive, foram coletâneas do gênero; mas o que vemos hoje em dia é uma proliferação de coletâneas levada, provavelmente, pela diminuição dos custos com impressão.
"Coletâneas são um bom treino e uma boa motivação, mas cuidado: nem sempre são o que parecem"
É possível, por exemplo, realizar uma coletânea e imprimir apenas os exemplares que os participantes comprarem, com pouquíssima diferença de custo por exemplar em relação a uma impressão de, digamos, mil exemplares.  E isso, é claro, facilita a entrada de novos organizadores neste mercado.

Mas e quanto à segunda questão? Será que vale a pena participar?

Vamos começar entendendo um pouco mais sobre coletâneas.

Quando uma coletânea é organizada por uma grande editora, como Os Cem Melhores Contos Brasileiros, organizada pelo Italo Moriconi, existe uma preocupação na seleção para buscar as melhores histórias (segundo a visão do organizador...) dos autores mais conhecidos, dentre estabelecidos e emergentes.
Além disso, e talvez mais importante, quando uma editora produz uma coletânea deste tipo ela tem em mente um nicho de mercado que ela divisou, com um público-alvo bem definido e processos de seleção, publicação, distribuição e divulgação profissionais, para tentar chegar a este público.

E é quanto a estes pontos que acredito que esteja a maior diferença em relação às coletâneas de pequenas editoras.
Sem um estudo de mercado mais profundo, aparecem muitas coletâneas que podem, simplesmente, não ter um público-alvo significativo.  Ou, para ser mais correto, coletâneas cujo público-alvo não consiga ser atingido - até porque contos são os preferidos de leitura de 22% das dezenas de milhões de leitores no Brasil, segundo a última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil.
O problema é que, sem um plano definido para atingir seus leitores, estas coletâneas acabam sendo vendidas, basicamente, para os próprios autores participantes e para alguns leitores que acabam sabendo a respeito.  Isso pode pesar na decisão sobre se vale a pena ou não participar.

Há, ainda, um ponto delicado a se considerar: A motivação do organizador.
Há coletâneas organizadas por escritores ou editoras idealistas, que querem promover a escrita e a leitura no Brasil, e há aquelas que são produzidas por "editoras caça-níqueis", na verdade gráficas que querem simplesmente ganhar dinheiro à custa dos participantes, seja cobrando para participarem dos "concursos", seja vendendo os exemplares depois (em contratos que obrigam o participante a comprar um número mínimo de exemplares).
Como saber qual é qual?
Sem conhecer diretamente o organizador, é difícil. Como sempre, o ideal é gastar um tempo pesquisando: O organizador já publicou outras coletâneas? Há divulgação das coletâneas anteriores (além do próprio site da editora)? As anteriores estão à venda em alguma livraria, mesmo que apenas virtualmente? A qualidade da capa e diagramação das anteriores é profissional? O que dizem os autores que participaram das edições anteriores?

Outro ponto a considerar é quanto à carreira. Ajuda participar de tais coletâneas?
Bom, sim e não.
Ajuda no sentido de que você vai treinar, e treinamento sempre é bom, só escrevendo é que se aprende a escrever.
Também ajuda na motivação: ter um livro com um conto seu escolhido na seleção e publicado é sempre um bom motivador, em especial quando estamos começando.
Quanto à carreira em si, ter participado de alguma coletânea mostra às grandes ou médias editoras que você têm iniciativa e que está há algum tempo escrevendo, o que é melhor do que não ter participado, mas estas editoras não vão inferir nada quanto à qualidade de seu trabalho; não vão achar que por você ter sido selecionado em 10 coletâneas que você escreve bem. 

Claro que há exceções: Se a coletânea é de algum concurso já reconhecido, com histórico, ou concursos de entidades como o SESC, Amazon ou outras, onde sabe-se que haverá muitos milhares de participantes, com certeza ser um premiado vale como currículo junto às editoras. Meu primeiro livro infantil, A Verdadeira História de Papai Noel, lançado também em Portugal, começou assim: um conto premiado no concurso do SESC de contos infantis, em 2006, que depois ganhou o interesse de uma editora.

Da minha parte, atualmente só participo em concursos de contos quando sou convidado ou quando me empolgo com o tema, como um desafio particular - mas não participo de concursos onde se paga a inscrição ou com obrigatoriedade de comprar exemplares.

Resumindo então: Vale a pena participar?
Como em tudo na vida, a resposta é uma só: Depende!


Dica: Uma boa fonte para procurar concursos, seja de contos, poesia, romance ou outros, é o blog Concursos Literários. Confiram!

Comentem, sugiram novos assuntos, e voltamos a nos ver em breve!

Gostou?  este post!


Nenhum comentário: