9 de fevereiro de 2010

Clareza e Concisão, dois dos melhores aliados de um escritor

Todo texto literário precisa ser conciso e claro, em especial aquele que pretende estar entre os poucos escolhidos por uma editora para publicação. Os conceitos de clareza e concisão, e a discussão sobre como, quando e porque utilizá-los, dariam para encher um livro, pelo que vamos apresentar aqui apenas uma visão geral sobre estes assuntos. Grosso modo, podemos dizer que clareza é a capacidade de um texto de ser facilmente entendido pelo leitor. Vamos a um contra-exemplo bastante conhecido, dois versos de nosso hino nacional:
"Ouviram do Ipiranga as margens plácidas, de um povo heróico o brado retumbante".
O trecho não chega a ser confuso, mas o uso excessivo da ordem indireta torna a frase bem menos clara para o leitor comum. Colocando na ordem direta, o sentido da frase fica bem claro:
"As margens plácidas do (rio) Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico".
Outro problema comum que gera falta de clareza é o uso excessivo de palavras pouco comuns. Um contra-exemplo excepcional é o divertido texto "Conforme o combinado", conto escrito com o objetivo de ser pouco claro, pelo colega André Luiz de Viana Barcellos: "Urge a necessidade que grassa pelo globo de uma posição ideológica neutra. Todavia, mediante as circunstâncias crônicas em que vive o mundo, torna-se inconcebível tal candura cotidiana. É deveras auferível a assaz impregnação do odor fétido-feérico que colide com tais coisas. É o odor metafórico que exalam os pecadores militantes e juramentados. Estes mambembes recalcitrantes aludem a tal situação... " etc. As palavras da abertura do conto, vistas uma a uma, não tornariam um texto incompreensível, mas quando unidas tornam o trecho difícil de ser apreendido com uma leitura rápida.
Já a concisão refere-se à capacidade do texto de dizer o que apenas precisa ser dito, apenas o que agrega valor à narrativa, e apenas isso. Um bom texto deve ser conciso em diversos níveis, começando por evitar palavras e explicações desnecessárias, e chegando às tramas, onde ações que não contribuem para a evolução da história ou para uma melhor compreensão dos personagens devem ser evitadas. Passemos a um exemplo simples, começando pela versão concisa: "Com o coração pesado, Percival viu o sol se pôr." Agora, uma versão prolixa incluiria adjetivos, apostos e digressões: "Com o coração pesado como uma pedra, sentado em uma cadeira cuja palha gasta por muitos sóis já começava a ceder, Percival, com os ombros doridos pelo esforço descomunal que fizera na construção da barraca viu o sol se por no horizonte, em matizes de dourado e rosa." Apesar de ser um consenso entre escritores que os textos devem sempre buscar a clareza e a concisão, como em tudo na literatura não existe uma regra de ouro que indique qual é o equilíbrio ideal para estas características – afinal, a poesia de um texto pode estar justamente em ferir algumas regras. Cabe a cada autor experimentar, exercitar e descobrir o seu próprio “ponto ideal”.

6 comentários:

A Desbocada disse...

Ótimas dicas!
Obrigado!
Abraços

A Desbocada disse...

Ótimas dicas!
Obrigado!
Abraços!

Eduardo disse...

Gostei do texto!
Muito bom mesmo. Continue com as dicas!

Francine Cruz disse...

estou começando um blog com dicas literárias... seria interessante trocarmos experiências.
Abraços.
convido à conhecer:
http://francinecruz.blogspot.com/
Estou te seguindo!
Bjossssssss

Ilona disse...

Excelente dica, meus professores de literatura na escola não explicavam melhor!
OBS:Pode um escritor não gostar da sua obra?
As dicas são ótimas!
bjuusss!

Alexandre Lobão disse...

Obrigado, Francine! Já visitei seu blog e recomendo aos outros visitantes daqui! :)


Quanto à pergunta da Iona: Pode um escritor não gostar da sua obra? Acho que a questão é dúbia... Acredito que todo escritor precisa amar o que faz, como um pai ama um filho. Mas, ao mesmo tempo, assim que você termina uma obra (seja um livro, uma escultura, um desenho, o que for), automaticamente você aprendeu com ela, e sabe que se fosse fazê-la de novo, faria melhor.
Como há sempre um certo sentimento de "isso podia ter ficado melhor", acredito que a relação acaba sendo de amor e ódio, bem Freudiana, mesmo... :)