1 de dezembro de 2010

Segundo passo: Preparando a estrutura de seu livro


  premissa da história, como mencionei em meu post anterior, é o primeiro passo para transformar uma idéia em um livro.
Vale reforçar que a premissa é a essência da história, e que sem uma boa premissa não vale à pena nem começar a escrever o livro.  Exagero? Nem um pouco! Apenas como exemplo, é prática comum em Hollywood reunir um grande grupo para discutir a premissa de um possível novo filme; e os executivos normalmente só aprovam o início do projeto se todos os participantes concordam que a premissa é boa o suficiente.
A premissa, além de ser uma boa idéia, deve ter o potencial de despertar a empatia dos possíveis leitores. Em outras palavras, além de original e inspirada, ela precisa ser inspiradora, fazer com que os leitores se importem com a história.
Uma vez definida a premissa, o próximo passo lógico é definir a estrutura da história.
A estrutura pode ser desde algo simples (Status quo inicial, conflito, resolução do conflito, novo status quo), até algo altamente sofisticado (como a "Jornada do Herói" sugerida por Joseph Campbell em seu livro "O Herói de Mil Faces"), passando por estruturas intermediárias como a sugerida por Syd Field em seu "Manual de Roteiro" (Status quo inicial,  ponto de virada inicial (conflito), desenvolvimento da história, ponto de virada 2, clímax (resolução do conflito), novo status quo)
"A grande diferença entre um escritor amador e um profissional é que o escritor amador acha que uma idéia inspirada basta, e o profissional sabe que a idéia também precisa ser inspiradora"
James McSill, Consultor literário internacional, assessor, cirurgião de texto (story doctor), palestrante e representante de autores
Uma das estruturas mais conhecidas é "A Jornada do Escritor", de Christopher Vogler, que basicamente pegou o trabalho de Campbell, focado mais na área de psiquiatria, e o trouxe para o mundo dos escritores e roteiristas. Comecemos por uma visão geral desta estrutura, e em próximos posts vamos discutir mais alguns detalhes sobre ela e sobre o uso de estruturas em geral.
A estrutura de uma história, conforme o sugerido por Vogler, é composta por 12 passos.  O exemplo a seguir foi tirado de um antigo texto que tenho comigo, que confesso não saber se é de minha autoria ou não - caso um eventual autor se pronuncie, anunciarei aqui seu nome.  Vamos à jornada:

Passo 1 - Mundo Comum.
O herói é apresentado em seu dia-a-dia.
Exemplo: A história de O Hobbit começa com a apresentação do Condado e de Bilbo em sua toca-casa.
Passo 2 - Chamado à aventura
A rotina do herói é quebrada por algo inesperado, insólito ou incomum.
Exemplo: Gandalf, o mago, aparece na porta de Bilbo e o convida para participar de uma aventura.
Passo 3 - Recusa ao chamado
Como já diz o próprio título da etapa, nosso herói não quer se envolver e prefere continuar sua vidinha.
Exemplo: Bilbo recusa o convite de Gandalf pois “não era respeitável para um hobbit sair em busca de aventuras”.
Passo 4 - Encontro com o Mentor
O encontro com o mentor pode ser tanto com alguém mais experiente ou com uma situação que o force a tomar uma decisão.
Exemplo: Por influência de Gandalf e de instintos herdados de sua família, Bilbo decide participar da aventura.
Passo 5 - Travessia do Umbral
Nessa fase, nosso herói decide ingressar num novo mundo. Sua decisão pode ser motivada por vários fatores, entre eles algo que o obrigue, mesmo que não seja essa a sua opção.
Exemplo: Bilbo e seus companheiros de aventura se deparam com três trolls numa floresta. Bilbo, como ladrão “designado” pelo grupo, arrisca-se em descobrir mais sobre os trolls e até tenta rouba-los.
Passo 6 - Testes, aliados e inimigos
A maior parte da história se desenvolve nesse ponto. No mundo especial - fora do ambiente normal do herói - é que ele irá passará por testes, receberá ajuda (esperada ou inesperada) de aliados e terá que enfrentar os inimigos.
Exemplo: A aventura de Bilbo continua. Ele passa por Valfenda, a terra dos elfos, atravessa as Montanhas Sombrias, a Floresta das Trevas e a Cidade do Vale.
Passo 7 - Aproximação do objetivo
O herói se aproxima do objetivo de sua missão, mas o nível de tensão aumenta e tudo fica indefinido.
Exemplo: Bilbo chega, finalmente, à Montanha Solitária, o covil de Smaug, o dragão.
Passo 8 - Provação máxima
É o auge da crise - precisa dizer mais?
Exemplo: Bilbo, sozinho, enfrenta o dragão, num diálogo no qual ele tenta descobrir as fraquezas do monstro.
Passo 9 - Conquista da recompensa
Passada a provação máxima, o herói conquista a recompensa.
Exemplo: Bilbo consegue retirar o dragão da Montanha Solitária e os homens da Cidade do Lago matam o monstro.
Passo 10 - Caminho de volta
É a parte mais curta da história - em algumas, nem sequer existem. Após ter conseguido seu objetivo, ele retorna ao mundo anterior.
Exemplo: Bilbo se prepara para voltar para casa.
Passo 11 - Depuração
Aqui o herói pode ter que enfrentar uma trama secundária não totalmente resolvida anteriormente.
Exemplo: Um exército de Orcs e Lobos Selvagens ataca os anões da Montanha, elfos da Floresta e os homens da Cidade. Acontece a Batalha dos Cinco Exércitos.
Passo 12 - Retorno transformado
É a finalização da história. O herói volta ao seu mundo, mas transformado - já não é mais o mesmo.
Exemplo: Finalmente, Bilbo retorna ao lar. Escreve um livro sobre suas aventuras, e se torna o estranho hobbit que gosta de aventuras.

Quando falamos de estruturas, a primeira reação dos escritores que não estão familiarizados com este conceito é achar que ele vai "engessar" seu trabalho e podar sua criatividade...  Adianto que não é nada disso! No próximo post - depois de minhas férias... - falo sobre isso, até lá fiquem à vontade para deixar seus comentários! 
Gostou?  este post!

5 comentários:

Sueli disse...

Aguardarei ansiosa seu próximo post. Boas férias!

Anônimo disse...

Muito bom... Parabéns...

Fil Felix disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Emanuel disse...

Essa estrutura pertence à Jornada do Herói, de Joseph Campbell. http://pt.wikipedia.org/wiki/Monomito
Um abraço!

Alexandre Lobão disse...

Oi Emanuel,
Sim, eu sei. O que falei que não me lembro é de quem escreveu este exemplo do Senhor dos Anéis, já está a tanto tempo comigo que não sei se fui eu ou algum de meus colegas escritores. :)
Valeu pela contribuição!
[]s