incrível como há sempre escritores em busca do 'segredo do sucesso', do Santo Graal, da bala de prata que matará todos os monstros e, miraculosamente, irá transformá-lo de um ilustre desconhecido em um ícone pop, amado (e odiado, o que é inevitável) pelas massas. Certo tempo atrás estava em uma palestra da Lya Luft quando ouvi novamente a pergunta: "A que você atribui o seu sucesso repentino?". A Lya, com a paciência aprendida em inúmeras conversas do gênero, explicou que de repentino seu sucesso não tinha nada, que ela batalhava na área há várias décadas (mais de 30 anos há época), traduzindo, escrevendo para jornais e revistas, publicando livro após livro, e se o sucesso ocorreu, foi apenas resultado deste esforço. | |
Não satisfeito, o (suposto) escritor retornou à questão: "Mas o que aconteceu para, depois de tanto tempo, você estourar como um sucesso nacional? Deve ter acontecido alguma coisa!".Lya explicou que aquela era uma pergunta comum, e que a resposta era uma só: não há segredo. Ela disse ainda que muitas vezes ela era procurada ao fim de suas palestras por pessoasque não acreditavam nela, e insistiam: "Entendo que você não queira falar em público... Mas conte aí seu segredo!". Risos na platéia. Próxima pergunta! | " |
Pois bem, esta semana estive com André Vianco, que lançou seu novo livro "O Caso Laura" - que aliás recomendo, a leitura é leve, divertida e instigante.
André e eu, no lançamento de "O Caso Laura"
Conheci o André na época do lançamento de seu terceiro livro, "Os Sete", e de cara percebi que seu sucesso só tendia a aumentar. Isso porque, como a Lya Luft, ele conhecia o segredo do sucesso... O André publicou seus primeiros livros por conta própria, e fazia ele mesmo a distribuição nas livrarias de São Paulo, conversava com vendedores e donos das livrarias para divulgar seu trabalho, e refazia todo o percurso de novo, a cada quinze dias, recolhendo o lucro das vendas, deixando mais livros e divulgando novamente seu trabalho. André sabia que ele podia não ser o melhor escritor do Brasil, mas tinha a convicção de que seu trabalho tinha valor, e sabia que tinha nascido para ser um escritor. Hoje, dez (ou mais, perdi a conta...) livros depois, seu trabalho é mais refinado, burilado pelos anos escrevendo e se aperfeiçoando, mas ele mantém seu estilo marcante de contar histórias e sua capacidade de envolver o leitor desde as primeiras linhas. Os exemplos são muitos, mas o André é, para mim, o melhor exemplo do "grande segredo". E para que fique (ainda mais) explícito, o segredo do sucesso não está em ter os melhores contatos no mundo editorial, não está em conhecer as melhores técnicas, nem em ter nenhuma informação "mágica" que irá tornar você um astro da literatura da noite para o dia. O verdadeiro segredo é acreditar em seu trabalho, e principalmente perseverar. Perseverar sempre! Escreva, escreva, escreva. E aceite que muito do que vai escrever será mediano, então pegue estes "medianos" e jogue fora. Isso mesmo, jogue fora, não vale à pena comprometer seu nome por preguiça de escrever tudo de novo. Falando agora de meu próprio caso: Comecei a escrever em 1992, em coletâneas de escritores. Publiquei meu primeiro trabalho solo em 2000 (o livro de contos "A Caixa de Pandora e outras histórias"), pagando de meu próprio bolso e aprendendo as agruras de tentar vender seu próprio trabalho. Passei alguns anos publicando livros técnicos (6 livros sobre programação de jogos de computador) até que em 2009 consegui emplacar meu primeiro trabalho em uma grande editora ("O Nome da Águia", um romance adulto). Depois desse publiquei mais dois livros (um infantil e um infanto-juvenil, "A verdadeira história de Papai Noel" e "Uhuru"). Mais detalhes em meu site, http://www.alexandrelobao.com/. Ainda não cheguei aonde queria, mas também não tive a coragem do André de largar tudo para trabalhar em prol de um sonho; mas acredito que minha persistência está trazendo frutos. Após 10 anos de escrita, digamos, mais constante, começo a perceber que algumas portas vãos aos poucos se abrindo, que algum reconhecimento vai acontecendo - por exemplo, já fui chamado para ser jurado em alguns concursos literários, e as editoras me recebem um pouco mais facilmente. Não "cheguei lá", mas pelo menos agora a trilha está mais clara, e o que tento aqui no blog é compartilhar um pouco disso com vocês. Como falei no início do ano (neste post), a melhor forma de manter um ritmo de escrita é definir metas. Este ano, até agora, escrevi quatro livros infantis, um roteiro de curta metragem, três roteiros de quadrinhos, terminei a estrutura de meu próximo romance e escrevi suas 15 primeiras cenas. Parece até muito, mas confesso que estou aquém do que eu queria. E você? Se ainda não definiu suas metas, ainda é tempo - não espere o início do ano que vem! E se definiu... Já estamos em maio, é hora de lembrar delas, e correr atrás do prejuízo! |
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2 comentários:
Olá
Sinceramente, gosto muito do André Vianco, tenho a maioria dos livros dele mas não o considero um bom escritor, e sim um ótimo contador de histórias.
Abraços
www.temalgumacoisaerrada.blogspot.com
Caro Renato!
Tenho que concordar com você. Como falei em algum post antigo, acredito que contar histórias e escrever são artes diferentes.
O André mesmo já me disse certa vez que não se considera mesmo um grande escritor, mas sabe (sem falsa modéstia) como envolver o leitor em suas histórias.
Mas a questão é realmente discutível, papo para horas em uma mesa de bar... :) O que é, afinal, ser um "bom escritor"? Seguir as regras gramaticais? Saramago faz isso? Usar a "norma culta"?
Eu particularmente acredito que um "bom escritor" é aquele que conhece não só as regras da língua, mas também as "regras" da produção de uma literatura de ficção bem estruturada - mesmo que ele deseje não segui-las...
Aliás, falando nisso, em breve estarei oferecendo, junto com o escritor Oswaldo Pullen (www.EscritaCriativa.net) um laboratório para profissionalização de escritores... Fique ligado!
E obrigado pelo comentário!
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