18 de janeiro de 2013

Mais dúvidas frequentes de escritores, em qualquer etapa de sua carreira

A
migos,
Tirei o gesso, mas continuo com o pulso doendo, à espera de uma fisioterapia... Então, para me poupar apenas mais um pouco, antes de falar das "metas do ano" para escritores, segue mais um post da série de "dúvidas frequentes", com respostas encaminhadas a emails enviados por diversos colegas escritores.
Obrigado pelas perguntas, e fiquem à vontade para continuar perguntando!

Questão: Você conhece alguém que poderia me dar assistência neste trabalho e me treinar no KDP (Kindle Direct Publishing)?

Resposta:
Esta página (em português) explica bastante bem o processo: https://kdp.amazon.com/self-publishing/signin/191-2585380-9414947?ie=UTF8&language=pt_BR.  Basicamente, se você tem seu livro no Word basta seguir os passos nesta página, criar uma conta e fazer upload do livro, que o site converte ele automaticamente e o coloca na loja da Amazon para vender. A conversão é simples, mas funciona; se você quiser uma conversão com mais opções, para gerar um resultado melhor, você irá precisar contratar alguém que faça este trabalho ou usar uma ferramenta de conversão - uma pesquisa no Google mostra várias ofertas de serviços e ferramentas.
"Questão: Onde fica o escritor quando o personagem toma vida? Até que ponto é possível permitir fluir sem 'perder o controle' ou 'enlouquecer' (ou ser possuído)?

Resposta: Quer fazer direito? Enlouqueça!"

Questão: Sempre que sobra um tempo em meu serviço, tento por em prática algumas de suas dicas. Mas, como eu sou bem iniciante (embora a ideia seja antiga), gostaria de acelerar o processo de aprendizado. Você poderia me dar alguma sugestão de curso (não sei se isso existe) que desenvolva a prática de escrita, para complementar o que eu aprendo no seu blog?
Resposta: É necessário cuidado quando procurando cursos para escritores, pois há cursos que focam mais no lado motivacional, animando o autor a escrever, outros que ensinam técnicas esparsas que são difíceis de materializar em seu trabalho (como, por exemplo, a técnica de "ler como um escritor", para apreciar detalhes e tentar depreender técnicas de livros famosos), e alguns outros mais objetivos, que focam realmente em técnicas. Procure conhecer a ementa e ver a opinião de alunos de turmas anteriores antes de se inscrever.
Para compensar a falta de uma resposta mais objetiva, segue uma dica para iniciar bem o trabalho: Escreva uma Premissa Estruturada, que é basicamente um parágrafo que resume a grande pergunta que sua história vai responder, com as seguintes partes:
1. Onde se passa a história (status quo)
2. Quem é o protagonista
3. Qual o grande objetivo do protagonista, a ser resolvido no final da obra
4. Quem é o antagonista
5. Qual o grande objetivo do antagonista (e que obviamente entrará em conflito com o objetivo do protagonista)
Este primeiro passo orienta TODO o trabalho do livro, tanto que nos Estados Unidos tanto a indústria de cinema quanto a literária só aposta em um livro ou filme se sua premissa está clara e se a “grande pergunta” é uma pergunta que vai REALMENTE interessar aos leitores ou telespectadores. Alguns exemplos para facilitar:
1. Em Gotham City, cidade habitada por uma sociedade burguesa degradada pela corrupção policial, abusos ambientais, excessos corporativos, ganância e imprensa sensacionalista e manipulada,
2. Bruce Wayne
3. Assume a identidade de Batman para lutar contra o crime. Será que Bruce conseguirá vencer o principal criminoso, que é
4. O Coringa
5. Que tudo faz para dominar a cidade e matá-lo?
Ou
1. Em pleno cenário da guerra, e após sobreviver a um bombardeio que lhe mata a família e seu cachorro de estimação
2. A pequena Paulette, de cinco anos
3. Se torna amiga de Michel, um menino de 11 anos, cuja família adota a garota. Será que os dois conseguirão manter a sua amizade e seu mundo de fantasia, apesar dos
4. adultos
5. Que não os compreendem e os oprimem com sua barbárie e seus preconceitos?

Questão: ...gostaria que você desse nem que fosse uma breve olhada na minha estrutura que está em anexo, que está montada de maneira simples, só para saber se estou no caminho certo.
Resposta: O importante na estrutura é você definir a cena-chave, que marca o início daquela etapa. Uma cena só pode ter UMA ação, acontecer em UM lugar, e em UM TEMPO; se mudar qualquer um destes elementos, já é outra cena.  Isso não ocorre, por exemplo, na "cena" que você descreve como: “Reiel ao acordar conta a Rafael sobre tudo o que esta acontecendo e sobre a ligação de tal evento com seu passado. Rafael não acredita em Reiel e diz que ele esta mentindo. Reiel diz que precisa da ajuda e Rafael para combater a morte. Rafael não aceita, mas após saber sobre a morte de seus pais ele se encoraja para combater as forças do mal.”.  Isto não é uma cena (pense como ficaria em um filme!), mas uma longa sequência de ações. O correto seria focar na cena central que indica o foco neste caso (a negação do personagem em seguir seu destino), algo como:
Ação (externa):
- Objetivo do personagem: Chegar em casa sem interrupções para saber se seus pais estão bem
- Obstáculo: Encontra o anjo Reiel em um beco
- Desfecho: O anjo pede sua ajuda para uma jornada contra a morte
------------------------------
Reação (interna):
- Reflexão: É uma missão importante e perigosa. Parece grande demais para mim.
- Dilema: Aceito ou não aceito?
- Decisão: não aceito, não acho que esteja à altura, e preciso saber como estão meus pais.
Depois de escrever as cena principais, você terá uma ideia sobre os pontos principais e da estrutura geral da história, e a partir daí poderá escrever as demais cenas. Com todas cenas escritas, você poderá partir para escrevê-las; lembrando que esta cena “organizada” do jeito que mostrei acima serve apenas como seu guia sobre a ação e as emoções do personagem, como isso irá para a cena final depende do que você quer reforçar.

Questão: Onde fica o escritor quando o personagem toma vida? Quer dizer, eu sei que para dar a direção que deseja, você(ego/ narrador) não pode 'interferir' na história e sim a personagem seguir a história com vivacidade.
Como não se perder? Como manter a linha? Talvez seja até meio psicológico demais, mas enfim. Um exemplo disso (paralelo à escrita) é a atuação do ator Heath Ledger como coringa no 'Cavaleiro das Trevas', o cara foi brilhante a ponto de aparecer gente dizendo que ele contracenou possuído. Só um exemplo...  Essa coisa de ter o controle, sabe? Até que ponto é possível permitir fluir sem 'perder o controle' ou 'enlouquecer' (ou ser possuído, rs)
Resposta:   A questão que você coloca é interessante, e não sei se tem uma resposta fácil. Por mim, acredito que quando os personagens tomam vida (e eles SEMPRE tomam vida, quando a história é longa o suficiente) o trabalho do escritor fica bem mais fácil, pois a história começa a se escrever sozinha, e melhor: sem erros de incoerências na personalidade do personagem. Por outro lado, a história pode ir por caminhos inesperados, e aí o escritor pode se ver em uma sinuca, que demandará muito mais imaginação para ser resolvida. No entanto, se você se organizou antes, escreveu a premissa, o perfil dos personagens, as principais cenas da trama, depois a descrição de cada uma das cenas; quando você finalmente começa a escrever a história já está na cabeça, e quando o personagem toma vida o que ele tem dentro de si é o seu passado e o seu futuro, que já foi definido, então a chance de a história fugir do seu controle é bem menor. A dica para não se perder e não destruir a naturalidade do personagem é você seguir um esquema de trabalho “top-down”, onde a história vai sendo detalhada aos poucos e os principais pontos de virada e conflitos já estão definidos. Neste caso, sempre há um ou outra variação no previsto conforme o rumo que os personagens tomam, mas não há o risco de a história perder o rumo ou ficar sem ritmo adequado por longas páginas, como é comum quando você não organiza antes o que vai escrever.
Eu tive um problema sério com isso em um conto de meu primeiro livro, “A Caixa de Pandora”. Eu escrevia uma história quase autobiográfica, mas como se tratava de uma história com elementos fantásticos, chegou um ponto em que os personagens tomaram vida e começaram a falar coisas que eu não esperava. Como eu estava profundamente envolvido na história, precisei escolher entre enlouquecer ou me distanciar... Escolhi me distanciar (eu acho), afastei-me e passei apenas a registrar o que acontecia, deixando os personagens viverem sua história - que chegou a um final surpreendente até mesmo para mim! Agora, um alerta: Em um conto isso funciona muito bem, em um livro, é bem mais arriscado, pois a trama pode desandar e não levar a lugar nenhum...

E você, quais são suas dúvidas? O que é que te deixa com uma grande concentração de pulgas por centímetro quadrado de atrás da orelha? Deixe seu comentário e participe da Vida de Escritor!

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6 comentários:

Vanessa Oliveira disse...

Na verdade existem duas dúvidas. A primeira é sobre o antagonista, por exemplo, num livro de romance como aqueles que não existem outro cara, nem doença, qual seria o antagonista?

A outra questão é as cenas de um livro de romance. Qual seria por exemplo numa cena de livro de romance o objetivo e obstáculo já que as vezes um capitulo inteiro é apenas conversa entre dois personagens?

Alexandre Lobão disse...

Oi Vaness@!
Excelentes perguntas!
Na verdade, TODO livro tem um antagonista, embora nem sempre ele seja explícito. Vejamos "50 tons de cinza", um livro de 'romance' recente e, aparentemente, sem antagonista. Na verdade, se olharmos bem há dois antagonistas que "atrapalham" o romance da personagem principal com o sr. Grey: um deles o "concorrente" do sr. Grey, o amigo latino da protagonista que obviamente tem interesse por ela, apesar de ela não corresponder; e o outro, este mais significativo, que é o próprio "lado escuro" do sr. Grey. A pergunta seria: conseguirá elas amá-lo, apesar do lado escuro de Grey ser o oposto a tudo o que ela acredita ser o amor?
O mesmo se aplica às cenas: uma boa cena SEMPRE tem um obstáculo, um "mero diálogo" sempre envolve interesses dos personagens, e portanto o obstáculo é convencer alguém de algo, ou convencer a si mesmo a aceitar algo.
Acho que deu para ter uma ideia, mas vamos conversando caso queira saber mais!

Vanessa Oliveira disse...

Você poderia dar exemplo num texto de Nicholas Sparks, por que minha idade não permite ler 50 Tons.

Alexandre Lobão disse...

Hehe!
Desculpe, falha minha!
Não cheguei a ler nem 10 destes 50 tons, mas tanto se fala neles que a gente acaba sabendo da história!

[]s

Vanessa Oliveira disse...

Isso é verdade! Você já leu algum do Nicholas Sparks poderia dar exemplo de uma cena dele?

Alexandre Lobão disse...

Oi Vaness@,

Confesso que não li nenhum livro do Nicholas Sparks; mas pelo que vi do estilo dele, provavelmente os obstáculos das cenas devem ser mais obstáculos interiores, do personagem sendo colocado em uma situação em que precisa ter coragem de superar suas próprias limitações, vencer sua timidez ou medo de se apaixonar ou sua descrença de que é capaz de fazer algo excepcional. O detalhe importante é que obstáculo pode ser externo ao personagem, como uma dificuldade a superar ou alguém a convencer de algo, ou interno ao personagem, inerente à dualidade de todo ser humano.
Tendo isso em mente, se quiser você mesma dar um exemplo aqui, seria bem legal! :)

[]s