16 de abril de 2015

7 Coisas que aprendi, com Cláudio Portella

7 coisas que aprendi é uma iniciativa conjunta dos blogs Escriba Encapuzado e Vida de Escritor, onde T. K. Pereira e eu, Alexandre Lobão, convidamos escritores e profissionais do mercado editorial para compartilharem suas experiências com os colegas de profissão, destacando sete coisas que aprenderam até hoje.
A série

Inspirada em uma coluna “7 Things I’ve Learned So Far” da revista americana Writer’s Digest, esta iniciativa surgiu para "saciar os sedentos pelas misteriosas águas da criação literária", segundo o amigo T. K. Pereira, autor da ideia. No decorrer de pouco mais dois anos, o projeto acumulou muitas dezenas de contribuições de escritores - um acervo notável, sem dúvida, enriquecido não só pela sabedoria de profissionais publicados, mas também pela perspicácia de aspirantes desconhecidos.

Esta semana temos a original contribuição do escritor, poeta, crítico literário e jornalista Cláudio Portella que, inclusive, exerceu sua liberdade artística de não se limitar a 7 coisas - ou mesmo numerar suas contribuições!  :)
 
Com vocês, as reflexões de um escritor, por Cláudio Portella:

Um país sem escritores é pobre. Um país onde todos se julgam escritores é mais pobre ainda.

Sou escritor, não animador de Bienal.

Todo poeta é escritor, mas nem todo escritor é poeta.

Prefiro um leitor inteligente à mil superficiais.

Um repórter veio à minha casa, queria conhecer meu ambiente de trabalho. Levei-o à cozinha e mostrei-lhe a cafeteira.


O escritor deveria ter um estágio de garçom.

Quanto menos concurso literário ganhar, menos curtição tiver. Eis o caminho da qualidade.

Delete como quem joga os originas da gaveta no lixo.

Confundem substância com tamanho. Numa entrevista que organizei com o escritor Caio Porfírio Carneiro onde escritores jovens fazem perguntas ao mestre, o Altair Martins pergunta se um romance não cabe num conto. Concordo, substância tem haver com depurar a linguagem. Um livro deve ter somente o número de páginas necessárias. O resto é piada de Português. E, pior, sem graça.

Sim, é possível o escritor exercer outra profissão além da de escritor. Há muitos bons escritores, não vou citar nomes, que exercem ou exerceram profissões sem relação direta com a profissão de escritor. Profissões como médico, advogado, diplomata e professor. Nada contra, claro. O que eu gostaria de saber é: por que só a profissão de escritor não basta? A profissão fica parecendo hobby. E isso não é profissionalismo. Se a profissão de escritor dá ou não dá dinheiro, não importa. O importante é ser escritor sem a necessidade de preencher lacunas.

Mesmo mal remunerado levantam o cartaz: "Orgulho de ser professor". Queria vê escritor levantar cartaz assim.

Se ninguém levanta o cartaz, levanto eu: ORGULHO DE SER ESCRITOR!

(Dos livros ‘O livro das frases & outros diálogos’, 2014 e ‘Picos Hotel’, 2015)

Sobre o autor:
Cláudio Portella (Fortaleza, 1972) é escritor, poeta, crítico literário e jornalista cultural. Autor dos livros Bingo! (2003), Melhores Poemas Patativa do Assaré (2006; Edição e-book, 2012), Crack (2009), fodaleza.com (2009), As Vísceras (2010), Cego Aderaldo (2010), O livro dos epigramas & outros poemas (2011), Net (2011), Os papéis que meus pais jogaram fora (2013), Cego Aderaldo: a vasta visão de um cantador (2013; Edição e-book, 2014), Elíptico (2014), O livro das frases & outros diálogos (2014) e Picos Hotel (2015). Colabora em importantes publicações do Brasil e do exterior. Ganhou o concurso de conto da UBENY - União Brasileira de Escritores em Nova York.

Gostou? Quer aprender mais com a experiência de dezenas de escritores e profissionais do mercado literário? Baixe agora o eBook gratuito da série 7 coisas que aprendi



E você, o que está esperando para compartilhar experiência? Participe desta série no  Vida de Escritor ou no Escriba Encapuzado!

Gostou? este post!

7 comentários:

Zulmira disse...

Alexandre e Cláudio, eu posso indicar uma diferença entre ser professor (tendo ou não orgulho da profissão) e ser escritor. Eu sou professora. Fiz os cursos necessários, recebi o diploma, prestei o juramento, passei em concurso e exerço a profissão. Está lá na minha carteira profissional o registro. Mas eu também gosto de escrever. Tenho um livro autopublicado e um blog onde escrevo regularmente. Sou escritora ou escrevinhadora? Não sei. De onde vem a investidura? Quem a concederá? Conheço vários aspirantes a escritor. Alguns escrevem mal e ainda assim proclamam-se "escritores". Duvido que não se sintam inseguros ao propalar esse título auto-atribuído. Então, como ter orgulho de ser algo que você nem ao menos tem certeza que é? Gostaria de entender qual é o momento em que alguém pode dizer, sem que nenhuma dúvida o incomode, que é escritor. Eu certamente teria muito orgulho de poder afirmá-lo.

Unknown disse...

Zulmira quem escreve mal não tem insegurança, tem certeza que não sabe escrever e força a barra se autoproclamando escritor, sem conhecer nada da profissão; levado por uma áurea romântica que o termo ‘escritor’ há muito perdeu. Hoje escritor é profissão. Pessoas assim só atrapalham os profissionais de verdade que lutam diariamente pelo “pão de cada dia” (a expressão é brega, mas é para que fique didático). Leia com mais cuidado minha reflexão que começa assim: “Sim, é possível o escritor exercer outra profissão...”, ela explica algumas coisas. Veja meu caso: escrevo profissionalmente desde 1996, próximo ano faço 20 anos de carreira. Abri mão de tudo para unicamente exercer a profissão. Digo, há duas décadas que não exerço outra profissão que não a de escritor; que sou escritor sem lacunas (Risos). Diariamente me mato em cima do texto para dá o máximo de qualidade aos meus leitores. Então é isso, quem se mata em cima do texto e tem uma carreira consolidada pode se julgar, sem medo, escritor de verdade.

Alexandre Lobão disse...

Oi Zulmira,

Nos Estados Unidos, onde a profissão de escritor é mais estabelecida, há algumas diferenças marcantes em relação à nossa realidade. Por exemplo, lá eles chamam de "writer" (escritor) quem vive de escrever, incluindo colunas, textos informativos, artigos para revistas especializadas, etc. Já "author", autor, é quem escreve ficção, que demandem criatividade e não apenas capacidade de colocar a realidade no papel. De maneira geral, O "author" é mais reconhecido que o "writer"; sendo que há ainda a diferenciação entre o "author" e o "published author" (autor publicado), que, digamos, tem a chancela de uma editora que seu trabalho tem interesse para o público. Este último é o mais reconhecido, pois qualquer um pode se dizer um "author", enquanto apenas os ""verdadeiros"" autores são aqueles publicados.

Dito isso, digo que penso como o Saramago: "Todos somos escritores, só que uns escrevem, outros não".

Eu mesmo tenho 11 livros publicados (sendo 6 técnicos, como "writer"...), mais uns quatro inéditos que, espero, serão publicados este ano, mas só recentemente comecei a ter coragem de me auto-definir como autor.

Sem ser tão corajoso como o Cláudio, ainda mantenho um segundo emprego para ajudar a pagar as contas da família; mas acredito que ser escritor é uma questão mais de foro íntimo: se você acredita que é escritor, mesmo em início de carreira, então é porque é.

Se você não consegue se ver sem escrever, precisa disso para se manter são, então você é escritor.
Como em toda profissão, há escritores bons e ruins, há escritores dedicados, caprichosos, e outros desleixados e falastrões; não há como evitar isso.
Cabe a cada um de nós procurar se profissionalizar e sempre dar nosso melhor.

Então, respondendo à sua pergunta, só há uma pessoa que poderá lhe dar a chancela de ser escritora. Cabe a você sentir qual o momento em que escrever deixou de ser um passatempo e passou a ser uma necessidade, e a partir daí conceder-se este título. :)


Cláudio Portella disse...

Concordo em tudo com o Lobão. Só um adendo: se por uma questão de foro íntimo você se julgar escritor e o público leitor não vê-lo como tal, digo, como um bom escritor de talento etc; se o público leitor não se identificar, não receber bem seu trabalho, é melhor rever essa autodenominação. Escritor que escreve só para si mesmo é suspeito. Na verdade, o escritor só existe porque existem os leitores.

Alexandre Lobão disse...

Concordo, Cláudio!

De nada vale escrever e guardar; quem quer ser escritor deve se expor ao crivo do público, sabendo que haverá críticas e elogios, e que nunca agradará a todos... Mas se não agradar ninguém, com certeza há algo estranho! ;)

André Nunes Matias disse...

Obrigado pelo conteúdo.
Amo essa coluna ; )

Alexandre Lobão disse...

Valeu, André!

Estou procurando novos colaboradores, se você escreve ou conhece alguém que escreva, as vagas estão abertas! :)