7 coisas que aprendi é uma iniciativa conjunta dos blogs Escriba Encapuzado e Vida de Escritor, onde T. K. Pereira e eu, Alexandre Lobão, convidamos escritores e profissionais do mercado editorial para compartilharem suas experiências com os colegas de profissão, destacando sete coisas que aprenderam até hoje.A série
Inspirada em uma coluna “7 Things I’ve Learned So Far” da revista americana Writer’s Digest, esta iniciativa surgiu para "saciar os sedentos pelas misteriosas águas da criação literária", segundo o amigo T. K. Pereira, autor da ideia. No decorrer de pouco mais dois anos, o projeto acumulou muitas dezenas de contribuições de escritores - um acervo notável, sem dúvida, enriquecido não só pela sabedoria de profissionais publicados, mas também pela perspicácia de aspirantes desconhecidos.
Esta semana temos a original contribuição do escritor, poeta, crítico literário e jornalista Cláudio Portella que, inclusive, exerceu sua liberdade artística de não se limitar a 7 coisas - ou mesmo numerar suas contribuições! :)
Com vocês, as reflexões de um escritor, por Cláudio Portella:
Sou escritor, não animador de Bienal.
Todo poeta é escritor, mas nem todo escritor é poeta.
Prefiro um leitor inteligente à mil superficiais.
Um repórter veio à minha casa, queria conhecer meu ambiente de trabalho. Levei-o à cozinha e mostrei-lhe a cafeteira.
O escritor deveria ter um estágio de garçom.
Quanto menos concurso literário ganhar, menos curtição tiver. Eis o caminho da qualidade.
Delete como quem joga os originas da gaveta no lixo.
Confundem substância com tamanho. Numa entrevista que organizei com o escritor Caio Porfírio Carneiro onde escritores jovens fazem perguntas ao mestre, o Altair Martins pergunta se um romance não cabe num conto. Concordo, substância tem haver com depurar a linguagem. Um livro deve ter somente o número de páginas necessárias. O resto é piada de Português. E, pior, sem graça.
Sim, é possível o escritor exercer outra profissão além da de escritor. Há muitos bons escritores, não vou citar nomes, que exercem ou exerceram profissões sem relação direta com a profissão de escritor. Profissões como médico, advogado, diplomata e professor. Nada contra, claro. O que eu gostaria de saber é: por que só a profissão de escritor não basta? A profissão fica parecendo hobby. E isso não é profissionalismo. Se a profissão de escritor dá ou não dá dinheiro, não importa. O importante é ser escritor sem a necessidade de preencher lacunas.
Mesmo mal remunerado levantam o cartaz: "Orgulho de ser professor". Queria vê escritor levantar cartaz assim.
Se ninguém levanta o cartaz, levanto eu: ORGULHO DE SER ESCRITOR!
(Dos livros ‘O livro das frases & outros diálogos’, 2014 e ‘Picos Hotel’, 2015)
Sobre o autor:
Cláudio Portella (Fortaleza, 1972) é escritor, poeta, crítico literário e jornalista cultural. Autor dos livros Bingo! (2003), Melhores Poemas Patativa do Assaré (2006; Edição e-book, 2012), Crack (2009), fodaleza.com (2009), As Vísceras (2010), Cego Aderaldo (2010), O livro dos epigramas & outros poemas (2011), Net (2011), Os papéis que meus pais jogaram fora (2013), Cego Aderaldo: a vasta visão de um cantador (2013; Edição e-book, 2014), Elíptico (2014), O livro das frases & outros diálogos (2014) e Picos Hotel (2015). Colabora em importantes publicações do Brasil e do exterior. Ganhou o concurso de conto da UBENY - União Brasileira de Escritores em Nova York.

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7 comentários:
Alexandre e Cláudio, eu posso indicar uma diferença entre ser professor (tendo ou não orgulho da profissão) e ser escritor. Eu sou professora. Fiz os cursos necessários, recebi o diploma, prestei o juramento, passei em concurso e exerço a profissão. Está lá na minha carteira profissional o registro. Mas eu também gosto de escrever. Tenho um livro autopublicado e um blog onde escrevo regularmente. Sou escritora ou escrevinhadora? Não sei. De onde vem a investidura? Quem a concederá? Conheço vários aspirantes a escritor. Alguns escrevem mal e ainda assim proclamam-se "escritores". Duvido que não se sintam inseguros ao propalar esse título auto-atribuído. Então, como ter orgulho de ser algo que você nem ao menos tem certeza que é? Gostaria de entender qual é o momento em que alguém pode dizer, sem que nenhuma dúvida o incomode, que é escritor. Eu certamente teria muito orgulho de poder afirmá-lo.
Zulmira quem escreve mal não tem insegurança, tem certeza que não sabe escrever e força a barra se autoproclamando escritor, sem conhecer nada da profissão; levado por uma áurea romântica que o termo ‘escritor’ há muito perdeu. Hoje escritor é profissão. Pessoas assim só atrapalham os profissionais de verdade que lutam diariamente pelo “pão de cada dia” (a expressão é brega, mas é para que fique didático). Leia com mais cuidado minha reflexão que começa assim: “Sim, é possível o escritor exercer outra profissão...”, ela explica algumas coisas. Veja meu caso: escrevo profissionalmente desde 1996, próximo ano faço 20 anos de carreira. Abri mão de tudo para unicamente exercer a profissão. Digo, há duas décadas que não exerço outra profissão que não a de escritor; que sou escritor sem lacunas (Risos). Diariamente me mato em cima do texto para dá o máximo de qualidade aos meus leitores. Então é isso, quem se mata em cima do texto e tem uma carreira consolidada pode se julgar, sem medo, escritor de verdade.
Oi Zulmira,
Nos Estados Unidos, onde a profissão de escritor é mais estabelecida, há algumas diferenças marcantes em relação à nossa realidade. Por exemplo, lá eles chamam de "writer" (escritor) quem vive de escrever, incluindo colunas, textos informativos, artigos para revistas especializadas, etc. Já "author", autor, é quem escreve ficção, que demandem criatividade e não apenas capacidade de colocar a realidade no papel. De maneira geral, O "author" é mais reconhecido que o "writer"; sendo que há ainda a diferenciação entre o "author" e o "published author" (autor publicado), que, digamos, tem a chancela de uma editora que seu trabalho tem interesse para o público. Este último é o mais reconhecido, pois qualquer um pode se dizer um "author", enquanto apenas os ""verdadeiros"" autores são aqueles publicados.
Dito isso, digo que penso como o Saramago: "Todos somos escritores, só que uns escrevem, outros não".
Eu mesmo tenho 11 livros publicados (sendo 6 técnicos, como "writer"...), mais uns quatro inéditos que, espero, serão publicados este ano, mas só recentemente comecei a ter coragem de me auto-definir como autor.
Sem ser tão corajoso como o Cláudio, ainda mantenho um segundo emprego para ajudar a pagar as contas da família; mas acredito que ser escritor é uma questão mais de foro íntimo: se você acredita que é escritor, mesmo em início de carreira, então é porque é.
Se você não consegue se ver sem escrever, precisa disso para se manter são, então você é escritor.
Como em toda profissão, há escritores bons e ruins, há escritores dedicados, caprichosos, e outros desleixados e falastrões; não há como evitar isso.
Cabe a cada um de nós procurar se profissionalizar e sempre dar nosso melhor.
Então, respondendo à sua pergunta, só há uma pessoa que poderá lhe dar a chancela de ser escritora. Cabe a você sentir qual o momento em que escrever deixou de ser um passatempo e passou a ser uma necessidade, e a partir daí conceder-se este título. :)
Concordo em tudo com o Lobão. Só um adendo: se por uma questão de foro íntimo você se julgar escritor e o público leitor não vê-lo como tal, digo, como um bom escritor de talento etc; se o público leitor não se identificar, não receber bem seu trabalho, é melhor rever essa autodenominação. Escritor que escreve só para si mesmo é suspeito. Na verdade, o escritor só existe porque existem os leitores.
Concordo, Cláudio!
De nada vale escrever e guardar; quem quer ser escritor deve se expor ao crivo do público, sabendo que haverá críticas e elogios, e que nunca agradará a todos... Mas se não agradar ninguém, com certeza há algo estranho! ;)
Obrigado pelo conteúdo.
Amo essa coluna ; )
Valeu, André!
Estou procurando novos colaboradores, se você escreve ou conhece alguém que escreva, as vagas estão abertas! :)
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