10 de novembro de 2015

Para que serve e o que é avaliado em uma leitura critica?



J
á faz alguns anos que falei sobre este tema, então resolvi trazer minha visão atualizada sobre o assunto.
Avaliar um original, seja um quadro, uma composição musical ou um livro, é sempre uma tarefa subjetiva. Por mais que tentemos objetivar a análise, dividindo a obra e analisando-a sobre diferentes aspectos, ainda assim sempre resta uma grande dose de subjetividade, sendo portanto o resultado, em última instância, uma visão pessoal do avaliador.

O que torna uma leitura crítica valiosa é ter uma posição de um leitor que não dará sua opinião simplesmente para agradar o autor, pelo contrário, ele estará procurando falhas que possam comprometer original.

Leitura crítica não é revisão: O leitor crítico não irá apontar todos erros ortográficos e gramaticais da obra, e muito menos corrigi-los, como é feito em uma revisão de texto.

Leitura crítica não é copidesque / cirurgia de texto: O leitor crítico indica problemas e eventualmente sugere melhorias, mas não irá alterar o texto original nem sugerir todas as alterações necessárias a tornar a obra mais chamativa para o leitor e/ou editoras.
“Quer elogios sobre seu original? Então nunca o mande para um leitor crítico!”
Leitura crítica é apenas isso: uma opinião de um (bom) leitor sobre o que está certo e, principalmente, sobre o que está errado em seu livro.

Obviamente, as opiniões do leitor crítico se baseiam em sua experiência como leitor e, inevitavelmente, podem ser influenciadas por seu gosto pessoal; de forma que sua opinião não é um atestado de qualidade (ou de falta desta); mas sim pontos de partida para que o autor veja sua obra por outros olhos e possa, caso desejado, burilá-la para torná-la mais palatável ao leitor.

Cada leitor crítico faz a sua avaliação de forma única, mas de uma maneira ou de outra ele irá produzir um “Laudo de Leitura Crítica” que tomou como base a análise em diferentes dimensões, podendo este detalhamento variar conforme as necessidades de melhoria do original. Usualmente o leitor crítico avalia pontos como:

  •  Continuidade: A continuidade se refere à integração entre frases, parágrafos, capítulos, e tramas do livro, indicando se o autor mantém uma linha narrativa que facilita a leitura, ou se dá “pulos” que podem vir a confundir o leitor.
  • Consistência das vozes / PDV: A consistência se refere à qualidade da obra de manter a mesma “voz” ou forma narrativa em sua totalidade, ou dentro de cada trama que eventualmente justifique “vozes” diferentes. Em vocabulário técnico, é a avaliação se há erros de PDV (ponto de vista) no texto.
  • Coerência: A coerência se refere à capacidade do autor de criar uma realidade coerente para sua história, sem “surpresas” que pareçam não se encaixar na realidade apresentada. Está intimamente ligada à suspensão da descrença.
  • Concisão e Clareza: A concisão se refere à qualidade do texto de ser conciso, não apresentando “pontas soltas” ou divagações que não contribuem para a história como um todo. Também é conciso o texto que evita rodeios e que não peca pelo excesso de detalhes, pontos estes que impactam no ritmo da leitura.
    A clareza indica se o texto é ou não facilmente lido. Textos rebuscados, com excesso de palavras eruditas ou excesso de detalhes interrelacionados pecam pela falta de clareza, embora a falta de clareza por si só não possa ser usada como um indicativo da qualidade da obra.
  • Ritmo e Tensão: O ritmo do texto é resultante da velocidade de leitura sugerida pela fluidez e clareza do texto, e pela organização das tramas, cenas e capítulos. Idealmente, ele deve ser associado com uma tensão crescente para que o leitor acelere sua leitura à medida em que avança, levando a um final que parece inevitável, mas idealmente é imprevisível. Além disso, os elementos-chave da trama estão sendo apresentados ao leitor logo de início?
  • Diagramação: A avaliação da diagramação só é realizada quando o original entregue já está diagramado.
  • Correção e Linguagem: A avaliação da correção visa indicar se a obra precisa ou não de uma revisão profissional.
    A avaliação da linguagem ou “voz narrativa” visa indicar se há alguma característica específica da linguagem que se destaca no livro, e que com isso ajuda ou prejudica a leitura .
  • Personagens: Uma avaliação sobre se os personagens são coesos, se parecem reais, se conseguem despertar empatia no leitor, se estão bem construídos, se têm uma identidade bem definida, se falam como pessoas reais, se cada um tem sua voz própria em um diálogo... etc
  • Estrutura da trama: A trama está evoluindo de maneira adequada, em um ritmo crescente de revelações que leva o leitor a um final que parece inevitável, mesmo que seja imprevisível? Os elementos-chave da trama estão sendo apresentados ao leitor logo de início?
  • Personagens: Uma avaliação sobre se os personagens são coesos, se parecem reais, se conseguem despertar empatia no leitor, se estão bem construídos, se têm uma identidade bem definida, se falam como pessoas reais, se cada um tem sua voz própria em um diálogo... etc
  • Estrutura da trama: A trama está evoluindo de maneira adequada, em um ritmo crescente de revelações que leva o leitor a um final que parece inevitável, mesmo que seja imprevisível? Os elementos-chave da trama estão sendo apresentados ao leitor logo de início?
  • Abertura: A abertura é uma das partes mais importantes da obra, pois as primeiras frases e páginas é que tem a maior capacidade de atrair ou repelir o leitor e o editor.
  • Encerramento: A conclusão é outra das partes mais importantes da obra, uma vez que um final insatisfatório pode fazer com que o leitor esqueça toda a satisfação que teve no correr da leitura.
  • Suspensão da descrença: A “suspensão da descrença” é o somatório de todas as características do original, indicando se ele consegue garantir a apropriada imersão do leitor na obra, ou se, por algum motivo, o leitor se sente “de fora” da narrativa.
Além disso, ele apresenta uma conclusão com os principais aspectos acima que chamaram sua atenção, dando sua opinião sobre o que falta – caso falte algo – ao original para que fique “pronto para ser entregue” a uma editora.

E você, como faz para avaliar seus originais antes de enviar às editoras? Comente e compartilhe!

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2 comentários:

Anônimo disse...

Lobão, qual é o seu email de contato?

Alexandre Lobão disse...

Caro 'Anônimo' e demais interessados:

Estou sempre disponível para aprofundar este e outros assuntos no email contato AlexandreLobao com

[]s,