m 1998, estimulado pelo escritor Ronaldo Cagiano, tirei meus originais da gaveta, revisei-os, organizei-os e preparei-me para publicar meu primeiro livro: "A Caixa de Pandora e Outras Histórias", um livro de contos recheado de histórias que ainda hoje mexem com minhas emoções. Animado com o volume em minhas mãos, enviei o trabalho para um monte de editoras, algo entre vinte e trinta. No correr de muitos e angustiantes meses de espera, colecionei cerca de uma dúzia de educadas e padronizadas cartas de recusa. Apenas uma destas foi um pouco mais personalizada, com um atencioso editor falando que gostou do trabalho, mas infelizmente ele "não se enquadrava em sua linha editorial", e sugerindo que eu procurasse por certa pessoa em uma outra editora, que poderia estar interessada. Resumindo a história: ela não estava. Resolvi então mudar de abordagem: eu confiava que o trabalho era de qualidade, então iria vendê-lo olho-no-olho, nada de cartas. Liguei para São Paulo, agendei reuniões com cinco editores que achei que poderiam se interessar pela obra. Qual não foi minha surpresa, 1.000km de estrada depois, quando só fui recebido por dois dos cinco editores, e apenas um deles quis efetivamente ficar com meu livro para avaliação. Retornei à minha cidade natal, e novamente o Cagiano veio a meu socorro, apresentado-me uma editora de confiança que tinha uma linha para novos autores, onde os autores custeavam a edição, e a editora entrava com os trabalhos de diagramação, revisão, capa, registro na BN, distribuição e venda. O livro foi publicado, então, no ano 2000, com uma edição de 1000 exemplares e uma segunda (já custeada integralmente pela editora) de 500 exemplares alguns anos depois. | |
De lá para cá aprendi muito sobre o mercado, e inspirado pelo exemplo do Ronaldo Cagiano venho passando este aprendizado para frente. Mas algumas coisa sempre me incomodaram: O mercado editorial brasileiro é realmente tão menos "profissional" (no sentido de organizado) que o americano, ou isso é uma ilusão? E seria verdade que só é possível entrar neste mercado com algum tipo de indicação? E se isso for verdade, como conseguir esta indicação? Estas questões rendem um livro inteiro, mas vou tentar resumir alguns pontos mais importantes - como sempre, fico aberto a aprofundar qualquer ponto, conforme seus pedidos nos comentários. | Não desanime na procura por uma editora, pois "Existem mais porcarias publicadas do que gênios incompreendidos nunca descobertos pelo mercado editorial" Lya Luft, romancista, poeta, tradutora, mãe e avó, em palestra no CCBB |
Começando pelo profissionalismo: Pela minha experiência, a organização mercado americano é com certeza maior, muito maior, o que não necessariamente é bom para o escritor. Raramente um escritor fala direto com uma editora, o "filtro" prévio de um agente literário é obrigatório. E, como os próprios agentes estão assoberbados, aos poucos nasce uma nova figura nesta cadeia, a do "writer coach", o treinador ou orientador de escritores que avalia o trabalho, ajuda o escritor a melhorá-lo e conhece os agentes, e qual poderia se interessar por aquele trabalho. É o caso de James McSill, que recentemente abriu uma agência literária em São Paulo com o intuito de trazer um pouco desta organização para os autores brasileiros. Além disso, outras áreas do mercado são igualmente estratificadas: meus livros em inglês passam por cinco (!) diferentes revisores antes de chegar à impressão: Um revisor técnico, um revisor de texto, um revisor de formatação e diagramação, um revisor de coerência (entre capítulos) e um último que nem lembro o que ele revisa. É, eu sei, "coisa de doido". :) O pior do mercado americano, a meu ver, são os agentes literários que se prendem a moldes para avaliar seus textos. Por exemplo, antes de ler uma só linha de seu texto, um agente pode passar um programa (como por exemplo o "Concordance" e verificar que você escreve frases longas demais, ou, sei lá, que repete muito a palavra "conspicuous", e negar seu texto porque não se enquadra nos padrões de livros 'comerciais' que ele representa. Já entrando na segunda e terceira questões, acredito que o melhor do mercado americano são os congressos para escritores e as famosas "pitch sessions", e acho que todos nós devemos batalhar para conseguir algo parecido aqui no Brasil. Com tantas feiras literárias pipocando em casa cidadezinha no Brasil, porque não fazer (mais, porque poucas já há) sessões específicas para escritores, com palestras de profissionais do mercado, dicas e oficinas? Além disso, acredito que seria muito importante utilizar o dia extra das bienais, em que só tem acesso aos pavilhões os profissionais do mercado e a imprensa, para permitir que escritores se cadastrem para participar de pitch sessions. Para quem não conhece, simplificando a coisa, nestas "sessões" os editores sentam em suas mesas e filas de autores ficam à sua frente. Cada autor tem poucos minutos (máximo de cinco, normalmente) para apresentar seu livro; e caso o editor se interesse, eles trocam seus contatos para uma conversa posterior. Parece pouco, mas foi assim que vendi primeiro livro no mercado americano: após 5 minutos de conversa, trocamos e-mails, e uma semana depois, no Brasil, chegou-me o contrato para assinar por e-mail. Veja algumas dicas sobre como os americanos se viram com cinco minutos neste artigo de Jennifer Lawler. Estas sessões servem como brecha para que novos talentos consigam superar a barreira burocrática e consuetudinária no mercado americano, e acredito que seria um grande avanço se pudéssemos tê-las também por aqui. Façam como eu: enviem esta sugestão às organizações das feiras, que alguma hora seremos ouvidos! Sendo, então, mais explícito, o que posso dizer do mercado nacional é que ele, da mesma forma que o americano, é realmente muito movido a indicações. Se você consegue que alguém famoso, mesmo que não seja do mercado editorial, indique seu livro a um editor, já é meio caminho andado. Outra alternativa é conhecer alguém da editora, ou um autor já publicado pela editora que o indique. Isso sempre ajuda. E se você não conhece ninguém, como me perguntaram em um comentário recente, o que fazer? Duas coisas: primeiro, conscientize-se de que conhecer alguém "de dentro" não é obrigatório, e nem mesmo garantia de publicação. Mas como isso ajuda, busque conhecer: Vá a feiras literárias e feiras de vendas livros, conheça os organizadores da feira, converse com editores, representantes, vendedores, escritores... construa seu "networking", sua rede de relacionamentos. Ligue para as editoras, converse com quem avalia os livros, acompanhe o que fazem no Facebook, Twitter, Linkedin, Plaxo etc. Mas atenção para um detalhe essencial: Se você não se importar de verdade com as pessoas, nem tente. Ser falso e interesseiro é o melhor caminho para enterrar sua carreira antes que ela tenha nascido! Em segundo lugar, e mais importante, cuide de apresentar seu trabalho de maneira profissional. Informe-se sobre como a editora espera receber seu trabalho, e atenha-se a este formato. A editora é um negócio, então ao invés de simplesmente enviar um livro, envie uma proposta editorial, indicando qual a premissa do livro, público alvo, que obras são suas concorrentes etc. O editor é seu chefe, trate-o como tal, com respeito e entregando trabalhos profissionais, e não como se você fosse a estrela em torno da qual as editoras deveriam gravitar. E lembre-se: em última instância, sempre o que vai pesar pela publicação ou não de seu livro é a qualidade de seu trabalho. Assim, se você deseja ser publicado, aja como um verdadeiro profissional de qualquer área: busque sempre aprimorar suas ferramentas. Você pode achar que escreve bem, mas acredite em mim quando digo que sempre há espaço para se melhorar! |
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14 comentários:
Olá!! Muito legal o seu post! Sua dica é muito valiosa. Também é legal enviar junto com a proposta um resumo do livro. Ajuda bastante e chama a atenção da pessoa que irá avaliar o livro. Acho bem legal quando o autor justifica o motivo dos assuntos abordados no seu texto e até mesmo a escolha entre narrativa em primeira pessoa ou em terceira pessoa. Quanto mais detalhes sobre o livro, mais atrativo fica. =D
Quais são as suas dicas para quem já tem vinculo com uma editora e está com dificuldade na divulgação? (essa é a minha atual dificuldade...)
@escritoraselene
http://selenedaquitaine.blogspot.com
=)
Obrigado pelas valiosas dicas. Fiquei teu fã!
Acabei de lançar um livro por uma editora e estou na batalha para a divulgar. Caso queira dar um conferida: http://fantasiabr.blogspot.com/2012/02/dica-de-livro-o-lado-avesso-nornes-o.html e este é meu blog. Antes que esqueça. O livro se chama: O Lado Avesso – Nonres, o Mago. Misturei a dragões, elfos, guerreiro e magos seres do folclore brasileiro para contar esta estória.
Boa noite caro amigo rs... Como sempre nos brindando com excelentes postagens...
Imagino se isto se aplica também ao mercado de livros digitais...
Sempre que fico a par deste tipo de informação me ponho a pensar se este caminho não seria menos conturbado para o escritor em início de carreira.
Parabéns amigo!
nos brindando com esperiências que certamente nos ajudarão muito!
abraços
Cravos
Oi, Selene, Marcos e Mirian,
Obrigado pelos comentários, são eles que mantém o blog "andando".
Prometi a outro colega um post sobre "primeiros passos", incluindo necessidade de registro na Biblioteca Nacional etc, mas na sequencia vou falar sobre divulgação para atender a vocês dois, aproveitando para dar uma "palhinha" na divulgação de ebooks também.
[]s!
Oi Escriba e Cravos,
Grato pelos comentários. Quando eu for falar sobre divulgação, falarei também sobre ebooks, respondendo a, ou pelo menos colocando mais lenha na fogueira da, questão eterna sobre se é mais fácil, ou menos conturbado, ir logo para o mundo digital, ok?
[]s
Oi Marcos,
A reenha no site Fantasia BR realmente deixa o leitor curioso, espero que o livro faça muito sucesso!
Não sei se você sabe, mas a editora Infinitum que está para lançar uma antologia de contos em formato digital, bem na linha do que você escreveu (misturando fantasia europeia com a brasileira).
Maiores informações em: http://editorainfinitum.com.br/2011/11/876/
Tem também esse texto de apoio: http://editorainfinitum.com.br/2011/12/a-literatura-de-fantasia
Oi, Alexandre, acompanho o seu blog a algum tempo e sei que sus dicas me ajudarão muito. Gostaria que em um próximo post você falasse sobre escrever uma série. Em que ponto terminar um livro. Sobre como escrever um livro com vàrias personagens principais, tendo diferentes pontos de vista. E como tornar o texto organizado.
Obrigado.
Olá, eu sou Orlando Francisco, não me considero escritor, mas tive a felicidade de criar 5 personagens que vivem em uma cidade imaginária por nome Ratosporanga eles são Ratos em fase de mutaçao. Nome dos personagens Casquinha, Melão, Thati, Calango e Sr. Tico madei rodar em uma editora local 3 mil exemplares de um livreto educativo em forma de quadrinhos falando sore meio ambiente, com o titulo, SERES VIVOS VIVENDO EM CORDA BAMBA, MAS ATÉ O MOMENTO NÃO ENCONTREI NÍNGUÉM QUE ME DESSE APOIO DE PATROCINIO, TENHO APOIO DE JORNALISTA DA TV VANGUARDA A QUAL FEZ UMA MATÉRIA QUE O VÍDEO SE ENCONTRA NO YUTUBE COMO (CASQUINHAIFICATION1) PARTE DO LIVRETO ESTÁ NO BLOGSPOT COMO ( (CASQUINHAESUATURMA.BLOGSPOT.COM)
(TWITTER.COM/CASQUINHA10)Estou em busca de parceria caso queira conhecer melhor o meu trabalho ou me dar algumas dicas ficarei grato, Orlando Franciswco... Estou no facebook como (Orlando Francisco terradonunca) email, (escritor_orlando@hotmail.com)Fone ( 012) 3912-2408 São José dos Campos sp.... estou no google como Orlando Francisco Casquinha
(PDF SITE www.scribd.com)OBS/ Aqui dá para ver e ler grande parte do livreto, obrigado....
Olá, "Unknown", obrigado pelo interesse.
Sugestão registrada, assim que eu falar de distribuição toco no assunto da série!
Caro Orlando,
Infelizmente a vida de (quase) todo escritor é assim mesmo: à procura de uma editora que queira publicar, ou de um patrocinador que deseje apoiar seus livros. Aliás, sou casado com uma artista plástica, e amigo de muitos artistas de teatro e música, pelo que posso dizer com certa propriedade que esta é a sina de qualquer um que deseje fazer da arte seu ganha-pão.
Uma dica para buscar patrocínios: atualmente existem sites brasileiros que oferecem a facilidade de "crowd funding", ou seja, você apresenta o projeto e quem desejar o apóia. No final, espera-se que a soma dos pequenos apoios complete a soma esperada peo projeto. Lembro do www.Vakinha.com.br, mas procure que você encontrará outros!
[]s e boa sorte,
Olá Alexandre.
Absorvi cada palavra e cada dica.
escrevi um livro e quero mesmo publica-lo, mas na verdade acho que sou desfavorecida com minha falta de experiência e graduação.
Acha que o fato de não ter cursado uma faculdade me impede de conseguir o que eu quero?
Meu livro é um romance bem humorado, destinado ao publico juvenil e adulto, narrado na primeira pessoa.
Poderia me falar alguns nomes de editoras?
Obrigada pelas dicas e eu adorei o seu artigo, por que fala exatamente sobre as minhas duvidas.
Oi Sarah,
Quanto a "ser desfavorecida", vou lhe pedir um favor: nunca mais use tais palavras! Todos temos pontos fortes e pontos de melhoria, e não é uma graduação que vai fazer a diferença. Lembre-se que Mozart compôs sua primeira sinfonia aos 7 anos de idade!
É claro que a experiência e o estudo ajudam a melhorar qualquer trabalho, e nunca devemos parar de estudar e procurar nos aperfeiçoar (eu mesmo estou fazendo uma pós-graduação, depois de 25 anos longe da academia...); mas o mais importante para um escritor é a vontade de escrever, a ânsia por fazer bem feito, porque sem isso não adiantam títulos ou estudos.
Quanto às editoras, pelo que você falou não dá para saber. Sugiro que você visite uma livraria e folheie os livros que são para o mesmo público-alvo que o seu; leia suas apresentações e anote o nome e informações de contato das editoras daqueles que forem mais alinhados com o seu. A partir daí, é só descobrir como cada uma avalia originais de novos autores - cada editora tem um processo diferente - e começar a enviar seu livro.
OU... sempre há a auto-publicação, em papel (paga), impresso por demanda (gratuito, como na editora Per Se, por exemplo) ou totalmente virtual (para publicar na Amazon, por exemplo, também é de graça).
[]s!
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