10 de setembro de 2014

Dicas para criar melhores aberturas em seus livros


Há muitas formas de se iniciar - e se terminar - uma história.
As histórias de Neil Gaiman, eventualmente, começam com uma música e terminam com uma pequena dança à beira-mar.
Markus Zusak já começou - e terminou - uma história com uma cor.
Suponho que as histórias de Jean Angelles comecem com um sonho, e terminem com um sorriso.
E que as de André Vianco comecem com um pesadelo, e terminem com um nó na garganta ou um grito de triunfo.
Já as histórias de Felipe Colbert começam com uma desafio à imaginação, e terminam com um suspiro de alívio.
Como disse, há muitas formas para se iniciar e terminar histórias.
O curioso é que todo escritor sabe o final de sua história antes mesmo de começá-la.

Curioso, mas verdadeiro:
saber o fim do caminho dá a direção do primeiro passo.
Minhas histórias, normalmente, começam com imaginação regada a fatos e ideias, e terminam após muita pesquisa e paixão.
"Não acredite no que vê em filmes hollywoodianos: a maioria dos escritores só escreve a primeira linha após ter uma boa noção de qual será a última"
O ponto importante é que a abertura de seu livro é o que "vende" o livro para seu leitor - às vezes literalmente, pois é a partir dela que você pode ganhar (ou perder) o leitor, ainda na livraria.
Para isso, é importante que você tome especial cuidado com o primeiro parágrafo do livro, de forma a trabalhá-lo para garantir o máximo de impacto possível.  Alguns exemplos muito bons:
  • “No dia em que o matariam, Santiago Nasar levantou-se às cinco e meia da manhã para esperar o navio em que chegaria o bispo." ("Crônica de uma Morte Anunciada", de Gabriel Garcia Marques)
  • "É muito difícil – ou inútil – datar o início desta história. Ela está começando hoje, aqui e agora, talvez só comece realmente amanhã, mais tarde ainda, ou nunca, talvez. Sei que esta história existe, está escrita e inscrita em minha carne, mas creio que ela não teve um início preciso, nem mesmo no dia em que resolvi dar nome ao meu pau.” ("Pilatos", de Carlos Heitor Cony)
  • “Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.” ("Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis)
O segredo é o autor colocar uma cena de impacto já nas primeiras linhas, de forma a provocar a curiosidade do leitor de maneira imediata. 
Mas e quando seu livro começa, digamos, "meio devagar"? O que fazer se você precisa apresentar os personagens e seu status quo, para que sua posterior destruição provoque um maior impacto no leitor.
Nestes casos, há dois truques que podem ajudar.
O primeiro tem o sofisticado nome em latim "en media res", que basicamente significa "começar pelo meio": ao invés de começar se livro pelo primeiro capítulo, coloque uma cena de alto impacto em primeiro lugar, para depois iniciar a história.  Por exemplo, ao invés de iniciar a história com o casal feliz tomando café da manhã, comece pela cena que vai acontecer dez capítulos depois, quando ele entra em casa e encontra uma frase escrita em sangue na parede mais próxima.  O leitor levará um choque, e quando começar a ler o próximo capítulo, com a adrenalina a mil, vai entender que ela se passa algum tempo antes do capítulo anterior, uma vez que a vida ainda está normal.
O segundo truque é, simplesmente, incluir um spoiler do que virá para gerar tensão no leitor.  Por exemplo:
  • Sem spoiler: "Beijou sua esposa e saiu para o dia belo e ensolarado. Antes de entrar no carro, olhou para ela com carinho e acenou, com um sorriso."
  • Com spoiler:: "Beijou sua esposa e saiu para o dia belo e ensolarado. Antes de entrar no carro, olhou para ela com carinho, como se fosse a última vez que a veria. E realmente era."
Os exemplos obviamente são simplistas e um pouco forçados, mas deixam bem claro o ponto: comece com uma abertura de impacto, e garanta o engajamento imediato leitor - especialmente se sua história não inicia de maneira muito empolgante.
E, obviamente, a partir daí garanta a tensão crescente na obra - cuidado com as quebras de ritmo que derrubam o leitor! - e conclua sua obra de forma retumbante!
Mas isso é assunto para um próximo post...

E você, alguma dica sobre aberturas? Alguma outra dúvida? Pode perguntar!

Gostou? este post!

3 comentários:

Mogg Mester disse...

Alexandre, seus textos são excelentes. É bem verdade que iniciar um livro talvez seja a parte mais difícil de se construir uma obra. Normalmente tenho o fim da história na cabeça, mas o começo é sempre o mais difícil de se fazer.
As dicas são muito válidas e importantes. Prender a atenção do leitor já no primeiro capítulo é muito importante para deixá-lo curioso sobre o desenvolver da história.
Sou autor de livro e digo que , para mim, o começo é sempre a parte mais dura e atravancada de escrever uma obra. Tenho 3 livros escritos(uma trilogia de literatura fantástica), estou escrevendo um quarto e um quinto livros, e sempre fico preso para escrever o primeiro capítulo.
Belo post. Acompanho seu blog sempre.
Mogg Mester

Mogg Mester disse...

É bem verdade o que você diz, Lobão. Tenho o início de um livro como a parte mais difícil de se iniciar uma obra. Muitas vezes tenho já o fim da história na cabeça, mas o começo, o primeiro capítulo, é o mais entravado. Já escrevi uma trilogia, e estou nos meus quarto e quinto livros e ainda tenho dificuldades para escrever o primeiro capítulo. Suas dicas são pertinentes para um público imediatista que exige ser conquistado no primeiro capítulo, senão na primeira página. Belo post. Vou frequentar seu blog com mais constância.
Mogg Mester

Alexandre Lobão disse...

Oi Mogg Mester,
Obrigado pelos comentários.
O que não podemos esquecer é que o "público imediatista" é, basicamente, todo mundo - inclusive nós mesmos. A verdade é que poucos são os que têm paciência para continuar lendo um livro se, depois de vinte ou trinta páginas, ele não mostre nada de interessante - seja uma cena instigante, um mistério a ser resolvido, um personagem que desperta empatia ou a forma envolvente que o autor escreve.
[]s!