Se você perguntar a cem escritores como é seu processo
criativo, você muito provavelmente receberá cem respostas diferentes. Para
piorar, a mais comum (e frustrante) resposta sobre o processo criativo é “não
tenho processo criativo”, “sigo minha inspiração” e coisas do gênero, que não
ajudam muito quem está começando.
Como se aprende a escrever livros?
A verdade é que boa parte dos escritores aprende a escrever
lendo. Subconscientemente, a cada leitura, ele vai entendendo como funciona a
organização geral das tramas de uma história, como é que os personagens
aparecem e evoluem, como se constroem os diálogos, como aumentar e diminuir o
ritmo de leitura etc. Uma conclusão lógica, mas que sempre vale a pena
reforçar, é esta: Se você quer ser escritor, comece sendo um leitor. Quanto
mais você ler, melhor vai dominar os “truques da arte”.
Desnecessário dizer que é essencial que você escolha com cuidado o que vai ler. Sobre isso, vale o conselho de Francine Prose, que em seu livro “Para ler como um escritor” destaca como você pode aprofundar sua capacidade de observação, ao ler, para entender e saber usar melhor as técnicas utilizadas pelos grandes mestres:
“Eu percebi que quanto melhor o livro que estou lendo, mais inteligente eu me sinto ou, pelo menos, me sinto mais capaz de imaginar que, algum dia, poderei me tornar mais inteligente.”
Obviamente, ainda que não exista uma “fórmula de como
escrever um livro”, há muitas técnicas que ajudam o escritor a organizar seu
trabalho para tirar o máximo de seu potencial.
Vamos fazer uma analogia para ficar ainda mais claro: não há
uma fórmula de como pintar um quadro. Há muitos pintores que seguem sua
intuição e, apenas com isso, tornam-se bons pintores, às vezes até
revolucionários. Mas há poucas dúvidas hoje de que uma formação acadêmica em
Artes Plásticas ajuda os pintores a tirarem o máximo de seu potencial, ao estudarem
História da Arte, Perspectiva, Figura Humana, Luz e Sombra, Teoria das Cores e
muitas outras matérias associadas.
Um bom exemplo disso é o pintor Pablo Picasso, que começou
como autodidata, mas mais tarde se inscreveu na escola de artes La Lonja e na
Real Academia de Belas Artes de San Fernando, e muitas vezes ia ao Museu do
Prado para copiar obras de grandes mestres, em busca de aprender suas
técnicas. Após dominar todas as técnicas que se lhe apresentavam, seguiu
por uma linha de quebrar todas as regras que aprendeu e revolucionou toda a
arte da época como um dos fundadores do cubismo e inventor de uma série de
novas técnicas para produção artística. O fato de ele ter estudado as melhores técnicas que havia em sua época na área de artes plásticas não acabou com sua genialidade; na verdade, potencializou-a e permitiu que ele atingisse o máximo de seu potencial.
Seguindo com a analogia, imagine que você é um pintor e deseja começar um novo quadro. Muito provavelmente você não vai se colocar em frente à tela em branco e sair jogando tintas, esperando que algo apareça daquele caos (a bem da verdade, há uma minoria de pintores e escritores que fazem exatamente isso. No caso dos escritores, é o que é chamado “escrita intuitiva”, eu gerou muitos contos e alguns romances no início do século passado. Se você não esta neste grupo, pode continuar lendo! ).
O que é importante pensar antes de começar a escrever?
Nesta linha, detalho a seguir alguns dos pontos que você
deve pensar para ter uma visão geral de sua obra, de uma forma mais
estruturada:
- Universo da obra: Onde (em que país, cidade, bairro, o quanto for possível detalhar) sua história se passa? Em que época? Ela se passa no mundo real, ou há algo diferente ou especial no universo da história? Se for este o caso, quais são as regras que regem esta parte diferente do seu universo?
- Status quo: Como é parte do universo mais diretamente relacionada aos personagens principais: Como é sua rotina, seu dia a dia? Onde vivem? Qual sua classe social? Em que trabalham? Como são afetados pelo governo, religião, etc?
- Protagonista e sua meta: Quem é o personagem principal de sua obra? Quais suas características psicológicas e físicas? Qual é o seu grande desejo na vida, o que o move? Mais especificamente, qual é a sua meta na história, o que ele pretende atingir que, uma vez atingido (ou tornando-se impossível de atingir...) a história termina?
- Antagonista e sua meta: Quem é o personagem cujas metas se interpõe no caminho dos objetivos do protagonista? Elabore, para este personagem, tudo o que você elaborou para seu protagonista. Adicionar um protagonista humano ou humanizado ajuda a criar tensão psicológica e emocional; vejam-se os exemplos dos filmes Tubarão (onde o antagonista é um prefeito que não deseja fechar a praia para não perder o dinheiro dos turistas) e Twister (onde uma equipe que busca informações meteorológicas sobre furacões, um grande desafio em si, precisa ainda enfrentar a competição de outro grupo com mesmo objetivo, mas desleal...).
- Conflito que vale uma história: O conflito nasce naturalmente do choque das metas do antagonista e do protagonista, mas é importante você pensar especificamente sobre ele. O conflito realmente vale uma história? O leitor vai se importar com os personagens, vai querer saber o desfecho de seu conflito?
- Trama e pontos de virada: Com todos os pontos anteriores bem definidos, a história já começa a se delinear melhor em sua cabeça. Para concluir esta etapa, o ideal é pensar na trama e imaginar quais são os pontos em que haverão "viradas", ou seja, os momentos em que o personagem principal precisa mudar de estratégia, precisa mudar sua linha de ação, seja porque foi forçado a isso, seja porque percebeu que o que fazia não levaria ao resultado esperado. Quando você consegue pensar nestes pontos de virada, a trama se desenha muito mais facilmente em sua cabeça.
Como fazer para planejar melhor o livro, antes de começar a escrever?
Caso você queira ir mais fundo, detalhar melhor este esboço antes de começar, uma ferramenta muito útil é a produção de uma sinopse.
A ideia da sinopse também é simples: escreva um resumo de sua história, em algo entre meia página e cinco páginas, contando tudo o que vai acontecer. Uma grande vantagem da sinopse é que, além de lhe oferecer uma visão consolidada de todos os pontos anteriores, ela permite que você valide, antes de começar a escrever, se aquela é realmente uma história que vale a pena ser contada - ou se é melhor retornar ao início e reelaborar seu planejamento.
Por fim, caso você seja daquelas pessoas que gosta de planejar até mesmo suas férias, você pode criar um outline.
O outline é mais que um resumo, é a descrição de cada uma das cenas de sua história. Trata-se de uma descrição breve, uma linha para cada cena, sem diálogos, descrições, nada do tipo. Por exemplo, "João encontra com Maria, mas se apaixona pela amiga dela, Tereza" pode virar uma cena de 2.000 palavras contando todo o drama interior de João naquele momento. Lembre-se: o outline é uma ferramenta para você, não para o leitor, então não precisa ser claro para mais ninguém exceto você.
Ao fim deste trabalho, você terá uma lista com dezenas ou poucas centenas de linhas, umas poucas páginas, e a história totalmente definida. Basta, agora, escrever, lembrando que se no correr da escrita você tiver uma ótima ideia que muda o rumo da história, basta volta e reescrever seu outline, sem medo de ser feliz!
Esta é a melhor forma de começar um livro? É a única?
Obviamente que não. É uma forma possível. Como falei no início, não há fórmulas!
Mas a ideia é que conhecer estas técnicas ajuda o escritor a desenvolver as suas próprias, para começar a fazer de forma consciente, de forma mais produtiva e com resultados melhores, aquilo que ele fazia apenas por intuição - e só isso já justifica o estudo!
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